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05/12/2010 - 11:25

Polícia diz que fazendeiros de Cáceres, Mirassol, Porto Esperidião, Pontes e Lacerda, Quatro Marcos, Vila Bela e Comodoro tem envolvimento com o Tráfico

Por A Gazeta

O volume de cocaína apreendido nos últimos 5 anos em Mato Grosso teve um aumento de 700%. De meia tonelada em 2004, passou para 4 toneladas este ano. Investigações da Polícia Federal apontam que grandes traficantes ligados a organizações criminosas de todo o país e até do exterior estão situados em pelo menos 9 municípios mato-grossenses.

Segundo o delegado federal Eder Rosa de Magalhães, diretor regional de Combate ao Crime Organizado, são empresários e fazendeiros que abastecem o tráfico nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. "Há muitos que só compram ou arrendam fazendas no Estado para receber e armazenar a droga até encaminhar aos respectivos destinos".

Por fazer fronteira com a Bolívia, um dos maiores produtores de coca do mundo, Mato Grosso se tornou uma das principais rotas dos traficantes. Nos últimos anos, 25% das apreensões de cocaína foram em território mato-grossense.

Um dos motivos para o aumento das apreensões, segundo o delegado, é o crescimento na produção da droga tanto na Bolívia quanto na Colômbia e Peru. Por ser um negócio altamente lucrativo, também atrai cada vez mais um grande número de pessoas.

O quilo de cocaína entra em Mato Grosso pelo custo de R$ 6 mil, em média. Quando chega à região Sudeste, o valor quase triplica e o quilo é vendido por R$ 15 mil. Considerando que cada 1 pode render até 5 quilos após o preparo, o traficante terá um lucro de R$ 60 mil por quilo.

As altas cifras também atraem os caminhoneiros, que aceitam levar o entorpecente escondido em cargas lícitas para os mais diferentes destinos no país. Para realizar o "serviço" recebem, em média, R$ 1 mil por quilo transportado. Valor que muitas vezes é pago com o próprio caminhão. "Eles fazem o transporte e ficam com o caminhão".

Rede - Os grupos que atuam em Mato Grosso são classificados como "pequenos" e "grandes". Os "pequenos" são formados por 10 pessoas, em média. Geralmente transportam volumes menores para abastecer a Grande Cuiabá.

Já os grupos "maiores" podem ter de 50 a 100 integrantes e fornecem cocaína para grandes centros, como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, e, em menor escala para outros estados. Além de alguns negócios fora do país.

Nas investigações, a Polícia constatou o envolvimento de fazendeiros e empresários de Cuiabá, Cáceres, Mirassol D"Oeste, Porto Esperidião, Pontes e Lacerda, São José dos Quatro Marcos, Vila Bela da Santíssima Trindade, Tangará da Serra e Comodoro.

Conforme o delegado, estes empresários e fazendeiros utilizam seus estabelecimentos e propriedades para lavagem do dinheiro obtido com o tráfico. "Nestes municípios são facilmente perceptíveis os sinais de enriquecimento ilícito de um grande número de pessoas sem fonte de renda conhecida, ostentando veículos e casas de alto padrão, indícios do envolvimento com atividades ilícitas".

Sistema - Para chegar até os destinatários finais, a cocaína que chega em Mato Grosso e tem uma rota pré-definida e que sempre é inovada pelos traficantes.

Segundo o diretor de Combate ao Crime Organizado da Polícia Federal, as encomendas passam pela fronteira por via aérea, em pequenas aeronaves que lançam os pacotes em locais já combinados com os traficantes, numa distância que varia de 50 a 100 quilômetros. "As datas e coordenadas dos locais são combinadas poucos dias antes via internet, seja skype ou messenger. Quando os pacotes caem em terra, os criminosos já estão esperando nas proximidades para fazer o carregamento".

A quantidade transportada em cada viagem varia de 250 a 500 quilos. Em território brasileiro, o entorpecente é estocado em fazendas, que funcionam como entrepostos, e dali é transportado por caminhões até o destino final. "Temos dificuldade em conseguir flagrar estas aeronaves. Sobrevoam em baixa altitude e não são detectadas pelos radares. Na maioria das vezes temos êxito quando a droga está em terra".

Outro método utilizado pelos grupos é a entrega em aeródromos não regulamentados e pistas improvisadas nas próprias fazendas. Também é comum o uso de aeronaves roubadas no Brasil para fazer o transporte.

Ação - Somente em um grupo desarticulado em 2008 durante a operação "Aracne", 52 pessoas foram presas. Pelo menos outras 30 que tinham ligação com o bando foram identificadas.

A organização era liderada por um fazendeiro de Campo Novo do Parecis. A droga era trazida da Bolívia por aeronaves e estocada em várias propriedades nos municípios de Campo Novo, Tangará da Serra e Nova Maringá.

Dali era distribuída para 5 grandes núcleos criminosos que atuavam em Mato Grosso, São Paulo, Maranhão, Minas Gerais e Distrito Federal. A maior parte tinha como destinatário o Primeiro Comando da Capital (PCC).

O transporte das fazendas para as cidades era feito por caminhões. Em 9 meses, estima-se que o grupo tenha entregue 15 toneladas de cocaína, a maioria em São Paulo.

Dois anos se passaram e a maioria dos acusados já se encontra em liberdade, entre eles o fazendeiro acusado de ser o chefe do esquema.

Rio de Janeiro - Um dos maiores consumidores da droga que passa por Mato Grosso é o estado do Rio de Janeiro. No início deste ano, a PF conseguiu desarticular um grupo que recebia droga oriunda de Mato Grosso. A carga de 200 quilos foi entregue em um laboratório, onde seria preparada e renderia 1000 quilos.

A Polícia constatou que o grupo levava esta mesma quantidade semanalmente, o que resultaria em 4 toneladas de entorpecente ao mês, distribuídas para traficantes dos morros cariocas.

Apesar de não conseguir mensurar a quantidade total que é levada ao Rio, a Polícia Federal acredita que este volume não vai cair após a desarticulação de grupos criminosos no Complexo do Alemão e Vila Cruzeiro.

Para Magalhães, a apreensão de toneladas de maconha e cocaína deve refletir no aumento do preço da droga. Isso porque a demanda pelo produto também deve aumentar. "Até que estes grupos se articulem novamente, o que pode levar alguns meses, outras organizações vão comprar esta droga para atender os usuários. Enquanto tiver consumidor, a droga vai chegar lá de alguma forma".

Combate - Para o delegado, uma das formas de combate ao tráfico é a repressão à produção da cocaína. Ele citou um exemplo de ação integrada no Paraguai, entre a Polícia Federal e Polícia paraguaia, que está combatendo o plantio da maconha. "Nós percebemos, nos últimos 3 anos, que a produção caiu. Isso é perceptível no aumento do preço. O quilo que antes era vendido a R$ 30 hoje custa R$ 200. Talvez esta seria uma das alternativas para o combate à cocaína".

 
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