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01/12/2010 - 07:48

Educadores pantaneiros realizam fórum de debate sobre educação do campo e economia solidária

Por Maria Edna Pedro/Assessoria

A realidade educacional, cultural e socioeconômica das comunidades camponesas de Mato Grosso é foco de estudos e debates entre educadores do campo e militantes de movimentos sociais da baixada cuiabana em fórum de discussões promovido pelo IFMT/Campus Cáceres por meio da pós-graduação lato sensu sobre educação do campo: saberes pantaneiros e a socioeconomia solidária. O curso é realizado em sistema modular no Núcleo Avançado do Pantanal em Poconé e reúne 70 educadores de realidades culturais diversas. “São mais de 30 comunidades rurais representadas na pós-graduação, distribuídas em municípios da baixada cuiabana envolvendo comunidades tradicionais quilombolas, assentamentos, representantes de movimentos sociais do campo, e esta diversidade enriquece o debate e os saberes desenvolvidos”, afirma o coordenador da pós-graduação, professor Silvano Carmo de Souza. Gonçalina Eva de Almeida é pedagoga. Natural da comunidade quilombola Mata Cavalo em Nossa Senhora do Livramento, ela atua há 12 na escola de ensino fundamental da comunidade. Aprovada no processo seletivo para ingresso na pós-graduação que envolveu mais de 300 educadores, Gonçalina iniciou as aulas com a perspectiva de ampliar saberes para retornar a sua realidade local. “O objetivo é encaminhar melhoria para fazer educação com qualidade, buscando meio de aprender, dentro deste ideal de educação que beneficie as famílias para ter condições de intervir no meio”, afirma Também da comunidade Mata Cavalo a professora Mary Gonçalina da Silva, aluna da pós-graduação define o curso como espaço coletivo de reflexão sobre a educação do campo “Aqui podemos dialogar, partilhar experiências, adquirir conhecimentos para aplicar na nossa rotina de educação no campo”, relata. Do assentamento rural de Limoeiro, no município de Cáceres, a educadora Idézia de Cândio partilha da expectativa de construção de saberes na educação integrada a realidade econômica e cultural das comunidades do campo. “Quero debater aqui e levar para minha comunidade conhecimentos sobre políticas públicas que possibilitem maior acesso aos direitos dos assentados, das famílias do campo. Os estudos e trocas de vivências ampliarão o nosso poder de discussão e de realização de direitos em conjunto com a comunidade”, afirma Militante do Movimento Social da Economia Solidária, a pedagoga Luciane Rocha Ferreira associa sua rotina de mestranda em Educação com a de aluna também da pós-graduação em Poconé. Integrante do movimento Mulheres Unidas e Determinadas na Ação pelo Reconhecimento, MUDAR, que reúne artesãs da comunidade Nova Esperança na capital, Luciane estuda experiências em economia solidária na baixada cuiabana. O seu objetivo no curso do IFMT é integrar conhecimentos que fortaleçam redes de cooperação em educação e socioeconomia solidária. “Um curso como este que coloca a especificidade em economia social e solidária incentiva e fortalece a construção das políticas para educação do campo. São trocas de saberes e construção conjunta para o fortalecimento de projeto de vida que coloca o ser humano como centro”, define Luciane. O primeiro fórum de debate e saberes do curso foi realizado no último final de semana a partir do eixo temático Agricultura Familiar: identidade, cultura, gênero e etnia. O módulo foi ministrado pelos professores Jackeline Maria Zani Oliveira, mestre em Tecnologias Ambientais e pelo diretor de ensino do IFMT, Gabriel Antonio Ogaya Joerke, mestre em Educação. No espaço inaugural, o professor convidado Laudemir Luiz Zart, mestre em sociologia Política abordou a temática Economia Camponesa e a Socioeconomia Solidária: construções populares para o desenvolvimento local. A partir de um apanhado histórico sobre concepções de educação do campo no Brasil, o pesquisador ressaltou a relação entre educação e economia nos projetos para o campo. “Economia e educação caminham juntas. E no campo, não há resultado de investimento em educação se não for pensado e gestado com base no complexo conjunto de atividades que permeia a vida camponesa”, pontua. Na perspectiva da educação e socioeconomia solidária, Zart destacou a concepção de um modelo de organização de empreendimentos coletivos, que contraria a dominação do trabalho e que inverte a relação de patrão/empregados, podendo ser gestado no campo a partir da agricultura familiar. “A economia solidária se consolida com trabalhadores livremente associados, num processo de organização democrática, participativa e de auto gestão, com dialogo, planejamento, execução e avaliação coletiva”, explica. Zart afirma que este processo de construção da cultura da participação, da solidariedade e da cooperação passa pela educação do campo que deve ser estudada com centralidade no sujeito que quer assumir o protagonismo de seu projeto para sociedade. “São homens e mulheres do campo que lutam e dizem eu quero uma educação que seja nossa, uma economia que seja nossa, que garanta nossa qualidade de vida e respeite nossa cultura”, afirma.
 
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