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01/11/2010 - 10:42

Peixe em Mato Grosso está com preço de filé mignon

Por Laís Costa Marques

Às margens do rio Cuiabá e na porta de entrada do Pantanal, Mato Grosso principalmente a região da Baixada Cuiabana, desenvolve uma gastronomia tradicional ligada aos peixes de água doce. Pintado, pacu, piraputanga e dourado estão entre as delícias mais conhecidas e consumidas, tanto pelos conterrâneos quanto pelos turistas que por aqui passam. Mas um detalhe, um tanto quanto relevante, faz com que a tradição não seja mais popularizada: o preço. Mais caro do que as peças mais nobres da carne bovina, os peixes da região podem chegar à mesa por valores superiores ao dos pescados em água salgada, que viajam quilômetros até chegar ao Estado. No tradicional Mercado do Porto, as 28 bancas disputam clientes e turistas que procuram comprar ou conhecer a carne branca nativa, com preços que variam entre R$ 10 a unidade, a R$ 22 o quilo, como é caso do pintado, o peixe mais vendido. Este valor, segundo o peixeiro Lucivaldo Sousa, da Associação de Pescadores do Mercado do Porto, é consequência do valor estipulado pelos pescadores somados aos custos para manutenção das bancas. "Não recebemos nenhuma ajuda do poder público. Temos que pagar água, luz, condomínio. Temos muitos custos e o consumidor é quem acaba sofrendo as consequências", revela o representante ao comentar que o lucro não passa de R$ 2 por quilo. Antônio Marques da Silva é pescador profissional há 30 anos e diz que o preço é de acordo com a oferta. Se tem muito peixe, o preço cai, e o contrário acontece quando falta pescado. Segundo o pescador, o pintado chega para os peixeiros por uma média de R$ 14 o quilo, considerando o peixe inteiro. "Eu pesco e também compro de outros pescadores para vender na cidade. O preço não varia muito e o lucro fica em torno de 20%". O vendedor Luciovaldo Sousa diz que muitos ribeirinhos chegam à feira sem noção de preço e pedem um valor muito alto, o que inviabiliza para o comerciante. "Eles não sabem como estão o mercado e colocam um preço que não condiz com a realidade. Negociamos, para conseguir vender depois. Temos que pensar no preço de venda". Luciovaldo garante que enquanto há peixe, tem consumidor e que se fosse mais barato com certeza iriam vender mais. "Se temos 100 quilos, vendemos tudo, se fossem 200 kg também venderíamos", afirma ao revelar que tem dias que o mercado comercializa até 800 kg de pintado. E isso realmente não aparenta nenhum absurdo. Na Peixaria Lélis, por exemplo, o consumo diário é de 200 kg. De acordo com o maître, Fábio Gonçalves, como o restaurante trabalha com 7 variedades, o consumo aumenta muito. Quanto aos preços, Gonçalves confirma que isso prejudica um pouco por ser elevado, mas que para compensar e garantir o fornecimento, eles também compram direto de psicultores. Na peixaria Popular, Leomar Barros, o Pacu, diz que há um boicote por parte dos peixeiros que combinam os preços e impõem um valor tabelado. "É uma espécie de "cartel". Todo mundo cobra o mesmo valor". Luciovaldo Sousa nega eu haja um acordo entre eles, o que acontece, afirma, é que todos têm custos parecidos e compram peixes praticamente pelo mesmo preço. "Os pescadores chegam aqui e cobram igualmente para todos, só consegue peixe mais barato que vai até a beira do rio buscar a mercadoria". O diretor da Associação de Supermercados de Mato Grosso (Asmat) e proprietário da rede Modelo, Altevir Magalhães, refuta a ideia de que o pescado tenha um valor muito alto e que isso implica em um consumo menor. De acordo com Magalhães, o peixe está em um processo de expansão de consumo e os preços são de acordo com a oferta e o valor de outras carnes. "O consumo está aumentando dia a dia, o que ocorre é que antes não havia produção em grande escala, como acontece com outros tipos de carnes. Hoje a psicultura está mudando isso e a redução de preços está vinculada ao incremento da criação em larga escala", e ainda afirma que além da pouca oferta, o peixe exige cuidados extras como maior refrigeração, mão-de-obra especializada, entre outros. Quanto à equivalência de preço com animais de origem marinha importada de outros estados, Altevir Magalhães afirma que isso ocorre apenas com a relação ao pintado. "O pintado está escasso e a tendência é cada vez ficar mais caro, mas é uma exceção. Porém com outros peixes, que podem ser criados em tanques, esta relação não existe", afirma ao comentar que o preço médio do kg da carne branca em seu supermercado é de R$ 7, igual ao preço médio da carne bovina e R$ 3 mais caro que a média do frango. Criação em tanques é tendência Uma alternativa que tem sido cada vez mais adotada é o consumo de peixes criados em cativeiro, por piscicultores. A produção está se popularizando e os clientes aceitando melhor o produto, antes considerado de qualidade inferior em virtude da consistência da carne. Nos supermercados o fornecimento é feito pelos produtores. Em Mato Grosso, a Associação dos Aquicultores (Aquamat) possui 70 filiados. A diferença de preços entre o peixe de rio e o de tanque é grande e o quilo do produto da piscicultura é vendido de R$ 3,50 a R$ 4 pelos fornecedores. Mesmo com a entrada no mercado, a Aquamat acredita que as vendas e a produção poderiam ser superiores. A presidente da entidade, Maria da Glória Bezerra Chaves diz que o consumo é crescente e que até mesmo vendedores do mercado do peixe adotam a mercadoria para garantir a presença de produtos nas bancas, mas que falta divulgar mais a qualidade do produto para retirar o estigma de que não é tão bom. "Até o peixeiros compram, eles negam que revendem peixe de tanque, mas muitos que compravam de pescadores agora compram hoje de piscicultores". O peixeiro Alcides Leite de Sá diz que apesar da sazonalidade e de haver épocas em que não se encontra determinadas espécies, ele só vende peixe de rio. "Os preços variam bastante justamente porque depende se está ou não tendo peixe". Altevir Magalhães, da rede de supermercados Modelo, diz que a criação é a alternativa para baratear o produto. "É inviável comprar apenas no Mercado do Porto, lá é outra realidade e é caro porque realmente falta peixe nos rios". No Comper, a venda de pescado tem registrado altas desde março. A gerente Izilda Maria da Silva diz que mês a mês o consumo sobe em média 8%. "Desde a quaresma a venda de peixes está aumentando", afirma ao comentar que a rede é abastecida por piscicultores. O fornecimento pode ser feito de 2 modos, ou com entrega de peixes in natura, ou já manipulados, como é caso do frigorífico Delicious Fish, que realiza todas as etapas da produção. Segundo Odineia Jandaína, a empresa cuida da criação à venda. Piracema - A partir de hoje, 1º de novembro, a pesca está proibida nos rios das Bacias Hidrográficas do Araguaia/Tocantins e no dia 5 de novembro nos rios das Bacias Hidrográficas do Amazonas e Paraguai, se estendendo até o dia 28 de fevereiro de 2011. Neste período só é permitida a pesca de subsistência. Pescadores profissionais recebem 1 salário mínimo.
 
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