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11/10/2010 - 12:33

Livro de Guapo será usado nas escolas

Por Luiz Fernando

A música mato-grossense de hoje é fruto de uma grande mistura de influências que vão desde a indígena até a platina, passando pela europeia e norte-americana. Um quebra-cabeça que foi montado como possível, já que o Estado durante muito tempo sofreu com o isolamento. Se os habitantes daqui não podiam dispor de instrumentos iguais aos dos europeus, eles fabricavam os seus a partir deles, com o que havia à disposição. O mesmo em relação à danças e outras formas de manifestação cultural. A característica deu nome ao livro do cantor, compositor e pesquisador Guapo (Milton Pereira de Pinho), Remedeia Co Que Tem (Carlini & Caniato), que servirá de apoio para as aulas de música da rede estadual de ensino e pode ser encontrado também nas livrarias. Guapo explica que o embrião da publicação foi uma pequena cartilha feita em 2005, com 60 páginas. Remedeia Co Que Tem é um trabalho muito mais completo, resultado de 38 anos de pesquisas que vem fazendo tanto em Mato Grosso como em outros Estados e até países. Ele conta que, em vista da edição da lei que traz de volta o ensino musical para as escolas públicas, sugeriu a obra à Secretaria de Estado de Educação (Seduc), que o aprovou - serão 2 mil cópias à disposição dos alunos. O interesse também foi grande por parte da editora e agora o livro pode ser encontrado também nas livrarias. É um trabalho que deve fazer parte da biblioteca de quem quer entender um pouco mais sobre como se formou a cultura musical de Mato Grosso. O autor vai fundo e traz à tona a história ancestral de vários estilos, assim como fala de quem hoje é responsável por compor o universo musical da região. Uma tarefa nada fácil, ressalta Guapo. Além de viajar bastante, teve que garimpar com afinco em bibliotecas e acervos diversos. "Posso dizer que esse livro tem 90% de pesquisa de campo e de livros e 10% de internet. "Algumas informações você só encontra na rede, principalmente as mais novas como sobre o Hip Hop", exemplifica. O pesquisador se preocupou ainda em atualizar as informações captadas nesses quase 40 anos de andanças. Como seria uma obra direcionada às crianças e jovens, se preocupou ainda em fazer um material ricamente ilustrado com fotos, para ser ainda mais atraente. Foram mais de dez fotógrafos, começando pelo lendário Lázaro Papazian (Cháu). "Do Cháu, por exemplo, tem uma foto do Jacildo de Jesus, que foi o primeiro roqueiro de Mato Grosso. Consegui uma foto dele com 17 anos tocando guitarra na Praça Alencastro", ilustra. Guapo dividiu o trabalho em partes bem distintas. Três delas mostram as vertentes formadoras da música mato-grossense, a autóctone, a Platina e a que vem de outros Estados. Fala do Curussé, que é uma "dança brincadeira" de origem chiquitana muito presente em Porto Esperidião; da Dança Cabocla, que é de Jauru. Apresenta uma rica pesquisa sobre a viola de cocho e mostra seus principais pesquisadores, como Rossini Tavares, Violeta de Andrade, Roberto Correa, Luiz Fernandes e Abel dos Santos. Fala da Polca paraguaia e conta a história da Guarânia. Esta última, por sua vez, nasceu no meio erudito. "Era um poema sinfônico apresentado com o maior estilo. Ela entra no Brasil, no meio rural, e fica como música sertaneja", ressalta o pesquisador. Resgata ainda o Pericón, dança parecida com a quadrilha. "Parece muito com o Minueto. Eles fazem uma roda, colocam um casal no meio dançando e rodam em torno do casal", descreve. Informa sobre a Milonga, o Tango - este dançado somente por homens antigamente, segundo Guapo. "Falo que o Tango influenciou muito Mato Grosso. Teve muita orquestra que apareceu na época do Tango e o jeito de tocar acordeon que o mato-grossense criou foi influência do Tango", garante. Noutra parte traz uma indispensável relação de biografias de nomes importantes de Mato Grosso, como José Mamede da Silva Rondon (1863-1944), Mestre Inácio (1892-1986), Honório Simaringo (?-1941), Cesino de Mattos (1912-1937), José Agnello Ribeiro (1881-1949), Levino Albano Conceição (1895-1955), Luiz Cândido da Silva (1919-1990), Mestre Albertino (1906-1995), Tote Garcia (1907-1987), Zulmira Canavarros (1895-1961), Dunga Rodrigues (1908-2002), Francisco Penha (1917-1993). Além de tratar de quem foi precursor dos mais variados estilos, Remedeia Co Que Tem não deixa de fora os destaques atuais tanto daqui como de fora. Abre espaço para a chamada música alternativa, para a vanguarda nativista e entra no significado de cultura e contracultura, para mostrar suas importâncias dentro da formação da identidade dos povos. O autor - Guapo nasceu em Cáceres, é cantor, compositor, pesquisador, produtor, diretor musical e consultor técnico de cultura. Foi o primeiro músico mato-grossense a representar o Estado no evento "Mato Grosso State Cultural" realizado em novembro de 2005, em Washington (EUA), com o show-recital Searching For The Lost River, fechando a quinzena cultural de Mato Grosso naquele país.
 
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