Jornal Oeste

História, estórias e um futuro De todas as cidades de Mato Grosso a minha relação pessoal se fixou muito em duas: Barra do Garças, que visitei em 1966, como estudante de Jornalismo da Universidade de Brasília. A outra, foi Cáceres, que conheci numa instalação do governo de Mato Grosso durante uma semana, na gestão Garcia Neto, em setembro de 976, na mesma semana em que me mudei para o estado. Aquela distante Barra do Garças, de 1976, com seus ranchos de capim, teve uma fase áurea em 1976, com a chegada dos gaúchos de Santa Rosa, trazidos pelo pastor luterano Norberto Schwants. Pariu Canarana, Água Boa, Nova Xavantina, e feneceu lentamente. Ainda hoje busca um futuro. Cáceres vem de um passado nobre, com fortes relações internacionais, através de Corumbá, via o lendário rio Paraguai. Com seus incontáveis rebanhos, Cáceres reinou a Oeste de Mato Grosso. Mas isso também passou. Mato Grosso, a partir da ocupação estratégica da Amazônia, imaginada pelos governos militares, desde 1973, sofreu experiências de desenvolvimento desiguais e diferenciadas regionalmente. Na década de 80, as novas pastagens de capim cultivadas em terras de cerrado, mais as enchentes sofridas a partir de 1976, descapitalizaram a pecuária pantanteira e atingiram mortalmente a economia tradicional de Cáceres e do Pantanal que ela representava. Chegamos a 2010 e como está Cáceres? A região respira futuro. Mas ainda não esquadrinhou as estratégias desse futuro. O Pantanal continua lá, quase intocado, rico, misterioso, hoje considerado como Patrimônio Natural da Humanidade e como Patrimônio da Biosfera. Isso significa profundo reconhecimento e respeito mundiais. Mas só isso não produz dinamismo econômico. A região cacerense ainda permanece muito preservada. Isso é patrimônio ambiental numa humanidade neurótica por natureza preservada. Mas também, sozinho, isso não produz dinamismo. Cáceres tem uma tradição e uma história econômica, humana, cultural e referencial no Estado, magníficas. Mas isso também não produz dinamismo econômico. Ah. Mas Cáceres é um patrimônio de História viva! Verdade, mas isso não gera dinamismo. Imagino que falar do futuro da região seja maior do que recorrer à História e aos seus valores sociais. Significa conjunturar tudo isso e dar-lhe um sentido prático e estartégico de conjunto, sob pena de esse futuro passar ao largo e se fixar em Poconé, por exemplo, ou migrar para a histórica e empobrecida Corumbá, que também é riquíssima em História ou para Aquidauna,em Mato Grosso do Sul. Construir a tese desse novo dinamismo do século 21, em linguagem e em parâmetros do século 21, é um trabalho acadêmico e científico vasto e conseqüente. Aqui entramos no presente e pomos o pé no futuro. A Universidade do Estado de Mato Grosso – Unemat, sediada em Cáceres, pode ser esse canal. Aliás, é o único canal existente e possível. Porém, a Unemat precisa começa a se construir nessa vertente e associar-se com as tendências da modernidade mato-grossense em todos os seus aspectos: na economia, nas regionalidades, das diversidades humanas e culturais, para construir um projeto de arremate que interessa ao próprio Estado. Mato Grosso perdeu sua cara e identidade históricas nesses 37 últimos anos, desde a ocupação da Amazônia. A Unemat pode e deve construir um paradigma de imagem e de referências que faltam em outras regiões até mesmo mais ricas e mais desenvolvidas, mas sem identidade presencial. Partindo desse Brasil Ocidental antevisto no Hino de Mato Grosso por Dom Aquino Correa, ainda preservado e promissor, pode nascer uma idéia do Estado que grandes empreendedores brasileiros definiram recentemente: “Mato Grosso tem a cara do Brasil do futuro!”. Mas Cáceres tem que querer. Progresso é como nuvem: muda de lugar daqui pra acolá. De repente a nuvem pantaneira sofre uma monção do cerrado e migra do Pantanal, pra sempre! Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso. Atualmente é Secretário de Estado de Comunicação Social onofreribeiro@terra.com.br