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30/09/2010 - 00:00

Federações dependentes

Por Jornal Oeste

Oliveira Júnior Os dirigentes de Mato Grosso não podem reclamar da falta de apoio financeiro para a realização de eventos esportivos. Através de convênios firmados entre as federações e a Secretaria Estadual de Esportes e Lazer (Seel) foram distribuídos quase seis milhões de reais este ano. Além de contar com o patrocínio de eventos esportivos por parte do Governo Estadual, entidades locais e até empresas particulares, receberam recursos também de outros órgãos. Só a Secretaria de Desenvolvimento do Turismo de Mato Grosso (Sedtur) contribuiu com meio milhão de reais - R$ 525 mil -, com a contratação da empresa Berohokã - Filmes e Editora Ltda, para a realização de um rali que teve largada em Mineiros-GO e chegada no interior de Mato Grosso. O contrato número 48/2009, referente ao processo nº 368283/2009, detalhe em seu objeto: "Contratação de empresa especializada para a realização do 1º Rally Ecológico de Regularidade Berohokã - Ilha do Bananal, período de 3 a 7 de setembro de 2009. A referida empresa citada pelo contrato, nunca antes havia realizado qualquer evento do gênero, e, portanto, sua "especialização" para tal é no mínimo questionável. Os R$ 525 mil pagos à empresa de propriedade do funcionário da Assembléia Legislativa Luiz Jacarandá Filho, foram "investidos" num evento com três dias de duração. Na época a contratação da Berohokã Filmes e Editora Ltda, foi feita pelo então secretário estadual de turismo Yuri Alexey Vieira Jorge. Todas as informações desse repasse estão disponíveis no Diário Oficial de Mato Grosso - datado de 11 de agosto de 2009 e são de domínio público. Conforme A Gazeta publicou em 28 de maio, o Ministério do Turismo também investiu alto em eventos esportivos em Mato Grosso. Só a Federação de Rodeio, recebeu nos últimos cinco anos do Ministério do Turismo, cerca de R$ 6 milhões, em média R$ 1,2 mi por ano, para promover um Campeonato Regional. O dinheiro enviado a Secretaria Estadual de Turismo (Sedtur) através de convênio oficial, veio do Ministério do Turismo, através de emendas parlamentares apresentadas por deputados federais e teve como sacador a Federação Mato-grossense de Rodeio. Os dados dos convênios, estão publicados no site portal da transparência, do Governo Federal. No site da Secretaria Estadual de Esportes, consta a lista de 34 federações conveniadas, mas poucas mantém um calendário em atividade. De acordo com a assessoria do secretário estadual de esportes, Laércio de Arruda, só em 2009 foram efetivados 79 convênios com federações (R$ 3.868,255 mi), realizadas 11 obras, pagas 130 bolsa atletas (no valor de R$ 1.250 mi), a atletas beneficiados, convênios com 45 prefeituras (R$ 1.890 mi), o que totalizou exatos R$ 5,758,259 milhões. "O Governo faz sua parte, segue a cartilha das Políticas de Estado para Esporte e Lazer, do Ministério dos Esportes, que tem como meta fomentar a prática esportiva como ferramenta de inclusão social, beneficiando crianças, jovens e adultos", disse Laércio de Arruda. Só para os clubes profissionais que disputaram o Campeonato Estadual de Futebol foram doados R$ 1,5 milhão e mais R$ 450 mil deverão ser repassados até o final desse ano para a realização da Copa Mato Grosso de Futebol. Como os clubes são profissionais e a legislação veta a transferência de recursos públicos para os times, a solução foi firmar um convênio entre a Seel e a Federação Mato-grossense de Futebol (FMF), com o compromisso de que se incentivasse as divisões de base, com a formação de novos talentos. Criada para ser esse celeiro, a Copa Mato Grosso se transformou no pomo da discórdia. Ao anunciar o União - campeão estadual 2010 - como o representante da Série D do Campeonato Brasileiro 2011, a Federação Mato-grossense de Futebol (FMF) comprou uma briga com os clubes, principalmente Mixto e Cuiabá Esporte Clube. Esta semana, representantes de torcidas organizadas protocolaram no Ministério Público Estadual (MP), uma denúncia, cuja principalmente argumentação versa sobre a quebra do Estatuto do Torcedor. "O artigo 9º do Estatuto do Torcedor é claro, não se pode mudar as regras do jogo durante e nem após a competição. O União, como campeão estadual, deve disputar a Copa do Brasil. Para conhecermos o representante de Mato Grosso na Série D de 2011 é preciso um torneio seletivo e este torneio deve ser a Copinha. O União não pode ganhar a vaga numa canetada", acusa Fábio Ramirez, representante da Organizada "Boca Suja", do Mixto Esporte Clube. Assistindo a toda essa polêmica do alto, Arni Spiering, presidente do União, se mostra tranquilo e evita polemizar. "Acredito fielmente na manutenção da palavra do Orione (Carlos,presidente da FMF). O presidente da FMF, por sua vez, não só ironizou a atitude da torcida, como desacreditou a ação, responsabilizando a CBF por uma suposta "exigência." "Isso não vai dar em nada. Foi a CBF quem exigiu o União", disse Carlos Orione, que, afastado da presidência há mais de 60 dias, para tratamento médico, rompeu com o seu vice, João Carlos de Oliveira Santos, após o mesmo ter defendido a seletiva para a Série D. Na esteira desse financiamento oficial que mantém as federações "em atividade", constam também liberações de recursos para a Federação Mato-grossense de Esportes Universitários (Fmeu), que realiza um evento por ano. Algumas dessas entidades terminam não prestando contas do dinheiro público e se tornam inadimplentes perante o Conselho Estadual de Desporto e consequentemente a Seel, como ocorreu com a Federação de Automobilismo, hoje, segundo a Seel, já regularizada. Segundo relatório 3.957/08 do Tribunal de Contas do Estado, foi detectada "ausência da prestação de contas da Federação de Vôlei, que recebeu R$ 280 mil no ano de 2007". "Ausência da instauração, por parte do FUNDED, de tomada de contas, pela não prestação de contas de convênios, em desacordo com o art. 42, º 2º, IN 01/07 c/c º 1º do art. 156 da Resolução n´ 14/2007 (RITC) Convênios 002/07 (Federação Matogrossense de Voleibol, R$ 280.000,00, prazo para prestação de contas até 31/08/07, atraso de 227 dias", diz o relatório da época. O contraponto de tanto investimento pode ser verificado na má gestão dos dirigentes do futebol profissional e da Prefeitura de Cuiabá. Para receberem a "doação" feita pelo Governo do Estado, os clubes deveriam prestar contas, apresentando notas fiscais de despesas, mas a liberação dos recursos atrasou, já que a grande maioria das prestações de contas estavam irregulares; erma notas fiscais em série, rasuradas e recibos sem sequer o sobrenome dos beneficiados. De maneira geral, o Governo do Estado investiu na construção de cobertura de ginásios e bancou entidades e os clubes profissionais. Essa "política" deixa clara a total dependência das federações amadoras, que, sem os recursos oficiais, não sobreviveriam. Algumas federações ainda recebem verba anual de" ajuda de custo" das Confederações Nacionais. Em Cuiabá, a falta de políticas públicas sucumbiu com o único programa que obteve sucesso nos últimos 10 anos. Criado pelo então prefeito Roberto França, o "Bom de Bola, Bom de Escola" empregava ex-jogadores profissionais, como administradores das escolinhas de futebol dos bairros, trabalhavam nos mini-estádios, construídos pela própria prefeitura. O projeto ganhou projeção nacional e foi elogiado pela CBF, mas não existe mais. O resultado dessa "canetada" refletiu diretamente na estrutura dos mini-estádios, hoje, completamente abandonados. No voleibol, a má gestão fez com que o único time da Capital inscrito na Liga Nacional de Vôlei fosse simplesmente desligado. "Não temos dinheiro para manter esse equipe, infelizmente", disse Nicanor Lopres, presidente da Federação Mato-grossense de Vôlei, que preferiu não comentar a desastrosa administração de Aurélio Augusto, marcada por denúncias de corrupção. Praças esportivas da Capital, como os ginásios Dom Aquino e Lixeira, estão abandonadas. No Dom Aquino, a quadra externa virou estacionamento do comércio que ocupa parte da área pública. A DEBANDADA Chefe da equipe do próprio filho, Cláudio Sereia deixou Cuiabá no ano passado e investiu na formação do filho Gabriel, de 11 anos. Campeão mais jovem de kart do Brasil, Gabriel está entre os cinco melhores pilotos da América do Sul, mas para alcançar esse nível, teve que trocar de cidade; mora em São Paulo desde 2009, porque não encontrou em Mato Grosso, leis de incentivo compatíveis com a necessidade dos investimentos que o esporte exige. "São Paulo oferece muitas outras leis de incentivo, Mato Grosso, infelizmente, nenhuma", resumiu Cláudio Sereia. Ernani Khun, também pai de piloto, lamenta a burocracia para a liberação de recursos no Estado. Segundo ele, o filho "Ernaninho" não disputou o Campeonato Sul-americano, pela demora para a liberação da ajuda de custo definida pela Seel. O dinheiro emperrou na Federação de Automobilismo (Femtau), que já chegou a receber patrocínio entre R$ 40 mil do Governo, por evento.
 
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