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18/07/2010 - 00:00

Abelhas são um perigo para moradores de Cáceres

Por Jornal Oeste

Clarice Navarro Diório A morte do aposentado Cláudio Rodrigues de Calvário, de 82 anos, em decorrência de picadas de abelhas, deve deixar em alerta a população de Cáceres. O fato ocorreu quando o idoso varria o quintal de sua residência, no bairro Santos Dumont. A colmeia existia há três anos no local, instalada no oco de um tronco de um pé de caju. O ataque aconteceu às 10 horas da manhã e a vítima morreu logo ao dar entrada no hospital, em decorrência de choque anafilático. As abelhas, da espécie Apis mellifera, não deveriam estar no local. Segundo Carlos Donizete de Oliveira Barbosa, apicultor há mais de 20 anos, e professor da disciplina Apicultura na curso de Zootecnia do Instituto de Ciência e Tecnologia em Cáceres, não é sensato ter colmeias em quintais e nem mesmo em áreas muito próximas da cidade. “As abelhas só atacam como defesa – neste caso específico, a vítima pode ter esbarrado num galho do cajueiro ou algo parecido. Mas nesta época do ano, daqui até o término da primavera, com o aumento do alimento disponível na natureza, as abelhas se proliferam”, diz. “O ataque acontece quando elas percebem qualquer tipo de ameaça à colônia, e quando isso acontece, atacam indiscriminadamente, pessoas e animais”. O professor revela que recebe vários pedidos de pessoas que constatam colmeias em suas residências – nos quintais ou mesmo nos forros das casas, e pedem auxílio. “O ideal é a remoção da colmeia, ou em último caso sua eliminação, utilizando veneno. Infelizmente não temos pessoas especializadas para o serviço, nem equipamentos adequados. Enviei recentemente um ofício à Apialpa, associação de apicultores de Cáceres. A intenção é que a associação se organize para que atendimentos deste tipo possam ser feitos, assim como campanhas de orientação. Os apicultores devem ser os responsáveis por isso”. Após a remoção ou exterminação da colmeia, deve ser feito um rescaldo cuidadoso, eliminando qualquer vestígio de cera ou própolis, que atrairiam novas abelhas para formar outra colmeia. Carlos Donizete informa ter conhecimento da existência de duas colmeias em áreas centrais da cidade, e as duas delas estão nas igrejas católicas mais freqüentadas de Cáceres: uma do lado esquerdo da Catedral de São Luiz, e outra no lado direito da Igreja Perpétuo Socorro, na avenida Sete de Setembro. “Essas colmeias oferecem risco à população”, afirma, acrescentando que devem existir inúmeras colmeias na área urbana, todas elas oferecendo risco a pessoas e animais. “A Apis não é uma abelha assassina”, afirma o professor. Ela é resultado de um cruzamento entre abelhas brasileiras e as européias e africanas, e ataca como forma de defesa. Já as abelhas nativas não tem ferrão, são menores e inofensivas.” A Apis mellifera é conhecida como a abelha do mel, devido à sua capacidade de produção, e foi introduzida nas Américas pelos colonizadores europeus. No Brasil, existem desde 1840, oriundas da Espanha e Portugal. São muito produtivas, mas agressivas quando se sentem ameaçadas. Cada colmeia tem em média 80 mil abelhas, e elas atacam em grupo. São grandes e escuras, com poucas listras amarelas. Quando acontece o ataque, as abelhas são atraídas por um hormônio excretado no local da picada. Ou seja, ao se tomar uma picada, outras abelhas do enxame são atraídas para o mesmo local, para picar também. Em local aberto, se for possível, a pessoa deve correr para o mato e correr em zigue-zague. Quando possível, se proteger com tecido grosso. Se estiver num quintal, correr para dentro de casa e se trancar. Correr para a água pode ajudar - desde que a pessoa saiba nadar. Maioria resiste a até 50 picadas O ataque de um grande enxame pode ser mortal. A maioria das pessoas resiste em média a 50 picadas, mas há casos de mortes com apenas três picadas. As reações ao veneno são ligadas à sensibilidade prévia da vítima aos componentes do veneno que elas liberam, e cuja quantidade é proporcional ao número de picadas. As picadas podem desencadear bronco-espasmo, edema da glote e choque anafilático. A abelha ao picar perde o seu ferrão, a bolsa de veneno e parte de seus intestinos, e morre pouco depois. Não há estatísticas que comprovem que o número de ataques aumentou na região. O que acontece é que nesta época do ano as abelhas se proliferam devido ao aumento da oferta de alimento na natureza. Também não há estatística que indique que as abelhas africanizadas estão dizimando as nativas. “Isto requer mais estudos”, afirma o professor Carlos Donizete, acrescentando que, entre as espécies, existe a competição por comida. ”Grosso modo, podemos afirmar que a abelha africanizada é mais defensiva, tem maior capacidade de trabalho e produz mais mel. Na época das floradas, a agressividade delas cresce, como forma de proteção à colméia”. “A apicultura requer técnicas e cuidados, como todas as atividades”, explica o professor. “E não podemos deixar de citar a importância das abelhas na natureza. Não fosse a polenização, nossa produção de grãos seria bem mais limitada”.
 
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