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09/05/2017 - 13:25 | Atualizado em 09/05/2017 - 14:55

Je t'aime, mamãe!

Confesso que fiquei minutos parada em frente à tela do computador tentando definir alguém que me é tudo.  Lembro-me de tanta coisa, tantos momentos e até dos conflitos frequentes em que ela só almejava o bem, era tudo por amor. 
 
E foi assim desde a primeira vez que ela me viu na telinha do ultrassom, desde quando escolheu  meu nome dizendo que sempre fiz jus à ele [Beatriz: aquela que faz os outros felizes; a que traz felicidade]. 
 
Sempre encheu-me de mimos e irritava-me com suas preocupações exacerbadas, lembro-me do sofrimento que estampou sua face quando fui morar sozinha aos dezesseis. Dizia: "Mãe, me dê espaço!", ela apenas se calava, preocupada.
 
Depois de tantos desamores, desprazeres e decepções numa cidade grande a menina acostumada com a calmaria rural e os beijos de boa noite da mãe, chorou. Chorou quando teve que encarar a vida, e chorou mais ainda quando descobriu que tudo é efêmero exceto o amor dos pais. E eu vi o quanto a devo perdão pela mente fraca e a fúria que transparece às vezes. Eu não sei amar com calma!
 
E sobre amar com calma a minha canceriana preferida entende bem. Passou horas em frente ao piano, aos 27 anos com oito meses de gravidez. Compôs a música que mais me toca até hoje, Beatriz. A Beatriz dela, não do Chico, não uma cópia. Eu, Beatriz. Acho que por isso sempre valorizei o amor expresso assim através da música, poesia e da arte. 
 
E quanto à arte, sou arteira por conta dela! Algo pelo qual temos amor em comum, assim como pela música em francês que só nós sabemos de cor. Ao mesmo tempo divergimos muito em personalidade mas fisicamente me dizem que somos "cara duma focinho da outra" ou soltam um "ela é sua irmã?".
 
Podemos até dar as costas, mas nas fitas antigas dos anos 90 em que eu tinha apenas poucos meses de vida meu olhar não me deixa negar o que sinto: amor, mamãe, gratidão por saber que quando tudo estiver escuro eu terei seu abraço para me guiar. E obrigada por me lembrar todas as vezes que "tudo mudou, filha, mas meu amor por você não diminui em nada", saiba que isso basta para que eu continue a caminhar e que é recíproco. Je t'aime.
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