Nesta crônica vamos dar um passeio pela história de um personagem cuiabano, que será lembrado por várias pessoas que viveram em Cuiabá nos anos 60. Quem na época transitava pela esquina da Av. Getúlio Vargas com a Rua Comandante Costa, naturalmente vem a lembrança da figura de um General, que ficava por horas seguidas, imobilizado olhando no horizonte, como se fosse um sentinela avançado guardando nossa querida Cuiabá.
Esse episódio ocorreu com um menino mulato, vestido do seu uniforme escolar (calça azul marinho, camisa branca e sapato " Passo Double" e que todas manhãs fazia o seguinte percurso: descia a Av. Coronel Escolástico sentindo o cheiro de frutas da época , como Mangas maduras, Cajá e Tarumã, seguindo sua rotina passava pelo “Poço do Buracão” faz parte da lenda da Alavanca de Ouro”, cortava a Praça do Rosário, acessando a “Prainha”, seguia pelo “Beco do Candeeiro”, rumo a “Rua de Baixo”, até desembocar finalmente na “Praça da República ", e que tinha como destino, chegar à Escola Modelo Barão de Melgaço onde recebia a formação intelectual. Costumeiramente, ele passava em frente à Catedral Metropolitana de Cuiabá, e benzendo o corpo e elevando o pensamento à Deus, suplicando proteção, por mais um dia de vida que se iniciava.
Neste contexto, o menino com um forte imaginário infantil encontrou na calçada em que passava, uma moeda reluzente e estabeleceu imediatamente, uma correlação, aparentemente inexplicável, entre a moeda encontrada e as dificuldades ocorridas com ele naquela manhã de setembro.
Conflitado com o fato de ter encontrado uma moeda, que possivelmente alguma pessoa necessitada teria perdido e sentindo-se responsável por um transtorno de qualquer natureza que pudesse estar provocando, desenvolveu intensa necessidade de dar àquela Moeda uma destinação justa, haja vista, que a mesma não a pertencia, o que culminou com a decisão de entregá-la a primeira pessoa realmente necessitada que encontrasse naquele dia.
E nesse dia conturbado de setembro, num dia especial de prova escolar, atrasado com o horário e os compromissos daquele dia, o menino teve seu primeiro contato com a estátua humana de Cuiabá, que permanentemente ficava por horas a fio parado no mesmo lugar, sem se mexer, a similar um militar com a patente imaginária de General, e as insígnias tinha as medalhas de condecorações de uma guerra que nunca existiu.
E eis que de repente num passo de mágica, surge a sua frente, o personagem do General Saco em sua posição costumeira de sentido, numa postura típica de um verdadeiro militar. Fisionomia sisuda, delineada por sobrancelhas enormes e desalinhadas, barbas crescidas e descuidadas, vestuário elegante num terno quase alinhado, bordado com medalhas de condecoração da guerra do Paraguai (Tampas de Garrafas) trazendo sobre aos ombros um saco de estopa.
Espantado com a miragem deparada, o menino mulato cuiabano, estendeu prontamente a moeda ao general saco, para sentir-se aliviado e abençoado intimamente ao desfazer-se da incomoda moeda encontrada.
E eis que num repente inesperado, quase aos gritos, o General Saco, como se estivesse dando uma voz de comando aos seus subordinados afirma:
- Não sou mendigo!!!!!!!!!
- E, não estou a pedir esmolas: tudo que eu tenho é fruto de meu mérito.
- Nunca roubei e nunca pedi nada a ninguém.
A minha missão é defender Cuiabá das forças ocultas e desonestas, corruptas e trapaceiras que promovem o desconforto e a insegurança do nosso povo ordeiro nascido no Centro da América do Sul.
- E, lembre-se bem: estou a serviço da abençoada Cidade Verde.
E ordenou: Fique com a sua moeda, e entenda o sentido da vida e os sinais que a poderosa força da natureza coloca costumeiramente a nossa disposição.
E no quartel imaginário do General Saco, localizado no centro de Cuiabá, no entroncamento da Av. Getúlio Vargas com a Rua Comandante Costa, este abriu o famoso saco de estopa que carregava nos ombros, e olhando detidamente para o tesouro que carregava dentro do saco, havia os frutos da terra: Mangas, Cajás, Tarumãs em diversas fases de maturação.
Sem muita cerimônia e de forma inteligente e reflexiva, o general questionou o menino:
- Sabe que as mangas podem lhe ensinar o significado de uma existência?
E, assustado e angustiado o menino tentava entender a mensagem passada pelo general. Assim, tirando uma manga podre de dentro do Saco, jogou-a contra a parede espatifando-a e logo esclareceu:
- Está manga representa o momento decorrido e desperdiçado, resultando em um tempo que já passou, e agora é tarde demais para todos.
A seguir retirou do saco de estopa, uma manga ainda verde, e voltou a falar:
- Esta manga representa o momento que ainda não aconteceu, onde é preciso esperar à hora certa para as tomadas de decisões acertadas e sensatas.
Finalmente, tirou do saco, uma manga madura, saboreou-a calmamente e disse ao menino:
- Esta manga representa o momento presente e oportuno para tomada de decisões. Necessário se faz, entretanto aproveitá-lo sem medos e culpas. Pois, durante a nossa vida estamos sempre em buscar de respostas, e muitas vezes ficamos a nos perguntar: por que a nossa alma não mostra o caminho proposto para a verdade eterna?
Assim, de forma singela e profunda ficou o ensinamento e a reflexão proposta pelo mestre General Saco, não só àquele menino mulato cuiabano, num dia atípico e avesso aos compromissos da rotina da sua vida, mas a todos nós enquanto seres que vivemos em processo de evolução.
Importante é avaliar e ouvir sempre, a voz que ecoa em nosso íntimo, e por isso, devemos estar preparados para abrir as conversas continuamente com o nosso coração.
São lembranças e ensinamentos registrados desde a infância, e pelas experiências intelectuais desenvolvidas, e sobretudo sabendo utiliza-las como forças espirituais que nos guiam.
Fica a mensagem do General Saco, onde notamos que as emoções são positivas, e quando chegar os nossos momentos de decidir, devemos tomar decisões sem remorsos, sem medos, mas com segurança, e seguir em direção a tudo que é ético, honesto, edificante e que de sobremaneira saber reunir tudo que promove o bem maior e comum entre as pessoas e principalmente ao nosso ser cuiabaninho que ficaram nas lindas lembranças das nossas infâncias.
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