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22/10/2014 - 12:08

Tempo primaveril: Floresça Brasil!

      Uma clareira incontida. Uma desertificação anunciada. Uma pátria desgovernada. Uma sociedade esfacelada. Uma política capitalizada. Uma fome de poder perpetuada. Uma economia forçada. Uma saúde decadente. Uma educação incompetente. Uma segurança urgente. Uma semente germinada. Uma árvore tombada. Um mato sem cachorro. Um grito de socorro. Uma margem sem papel. Uma visão distorcida. Uma disputa acirrada. Uma terra devassada. Uma aeronave seqüestrada. Uma sociedade sem representação. Um país sem solução. Um ambiente deveras natural. Uma redoma institucional. Uma temporada eleitoral. Uma florada parcialmente polinizada. Uma colméia artificial. Uma geléia em nada real. Uma rainha sem zangão. Uma operária sem asas.  Uma larva sem progenitor. Uma atrofia sem legislador.

      Um santinho do pau oco. Um cantinho institucional. Uma flor despetalada. Uma promessa repetida. Um discurso encomendado. Um cargo pleiteado. Uma carga sem vagão. Um trilho sem estação. Um passageiro da agonia. Uma tripulação sem paradeiro. Uma névoa de fumaça. Uma trapaça orquestrada. Uma calamidade anunciada. Uma causa perdida. Um pleito disputado. Um eleitorado escolado. Um grilo falante. Uma grinalda em nada matrimonial. Um véu constitucional. Um viés emergencial.

      Uma casa sem botão. Uma barra sem costura. Uma manga sem camisa. Um colarinho sem entretela. Um cinto sem fivela. Uma saia rodada. Uma blusa cavada. Um colete salva vida. Um par de meias arrastão. Uma melindrosa de salão. Uma piteira sem fumo. Um rumo sem direção. Uma liberdade tardia. Uma igualdade sem hipocrisia. Uma prosperidade elencada na ordem do dia. Uma ordem deveras advinda da democracia. Um progresso sem qualquer cidadania. Um verso sem nenhuma poesia. Uma mordomia continuada. Um palácio de cristal. Uma cinderela adormecida. Um principado em nada medieval.

      Uma cruzada social. Uma encruzilhada política. Uma direção bifurcada. Uma estalagem passageira. Uma bandeira desfraldada. Um brasão timbrado. Um público acuado. Um Estado federado. Uma Constituição Federal. Um Poder dissimulado. Um Poder dissimulador. Um Poder enganador. Um Poder conflitante. Um Poder por princípio regenerador. Um Poder chamado eleitor. Um Poder de sucessor em sucessor. Um Poder empreendedor. Um Poder limitado. Um Poder agregador. Um Poder delegado. Um Poder verdadeiro. Um Poder brasileiro. Um Poder dogmático. Um Poder idealizador. Um Poder utópico. Um Poder em nada promissor.

      Pedro partiu para além dos mares navegados. Deodoro ficou a ver navios atracados. Brios invalidados. Brioches amanhecidos. Trios e fantoches articulados. Proclamados e proclamadores. Senhoras e senhores. Fardados e paisanas. Patenteados e naufragados. Nomeados e eleitos. Sujeitos empossados. Sujeitos deveras representados. Sujeitos dissimulados. Sujeitos ocultados. Sujeitos indeterminados. Sujeitos alijados. Sujeitos sorrateiros. Sujeitos pilhados. Sujeitos brasileiros.

      Verbos em mais de uma oração. Predicados da enganação. Substantivos da exclusão. Adjetivos censurados. Coletivos dispersos. Sinônimos da corrupção. Antônimos do voto livre, secreto e universal. Tempo verbal. Tempo criminal. Tempo de investigação policial. Tempo processual. Tempo Tribunal. Tempo real. Tempo pavimento nacional. Tempo pavilhão hasteado. Tempo grilhão acorrentado. Tempo acelerado. Tempo presente preterido. Tempo presidente. Tempo presidido.

      Quantas horas são? Quantos dias para a eleição? Quantas propagandas enganosas? Quantos cravos? Quantas rosas? Quantos contos? Quantas prosas? Quantos feridos? Quantos despetalados? Quantos milhões arrecadados? Quantos barões assinalados? Quantos infantes matriculados? Quantos enfermos não socorridos? Quantos votos validados? Quantos votos anulados? Quantos votantes esclarecidos? Quantas urnas sorrateiras? Quantas bandalheiras? Quantas lenhas? Quantas fornalhas? Quantas fogueiras? Quantas espigas? Quantos debulhadores? Quantas palhas? Quantos saques? Quantos saqueadores? Quantos crimes? Quantos horrores? Quantos leigos? Quantos doutores?

      Tempo futuro adiado. Tempo passado maculado. Tempo perdido. Tempo desperdiçado. Tempo cronometrado. Tempo legado. Tempo ventania. Tempo tempestade. Tempo improbidade. Tempo trova. Tempo trovão. Tempo teste. Tempo prova. Tempo cultura da enganação. Tempo da rasura. Tempo da improvisação. Tempo certeiro. Tempo ponteiro da exclusão. Tempo estudantil. Tempo primaveril: Floresça Brasil! Imprimir