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16/10/2014 - 12:04

Mato Grosso: Cultura ao avesso!

Pires quebrado. Eleito e eleitorado. Leite derramado. Pedra no caminho. Espinho pontiagudo. Compromisso assinado. Papel passado. Papel presente. Papel futuro. Letras e letrados. Livros e escolarizados. Antologias intermitentes. Artes dormentes. Artistas descontentes. Atores sem ribaltas iluminadas. Artesãos de uma Casa de portas fechadas. Músicos de uma serenata sem luar. Verbo governar. Verbo prometer. Verbo executar.

        Governante e população. Promessas e eleição. Executivo e administração. Cortar e reduzir. Limitar e conter. Superintendência dissimulada. Secretaria de Cultura sepultada. Morte de causa ignorada. Memória embalsamada. História cremada. Geografia sem missa de sétimo dia. Cidadania de luto coletivo. Presente do Indicativo. Aquarela desbotada. Óleo sob tela rasgada. Cantiga de ninar. Hino centenário. Glossário. Roda de seresta sem seresteiro. Cururu sem violeiro. Siriri sem tocador. Acorda Excelentíssimo Governador!
      
  Mato Grosso sabe de cor e salteado o que é uma divisão. Mato Grosso, antes do Estado solução propagado por José Garcia Neto, é muito mais do que uma bolsa de cimento em concreto armado. Mato Grosso é nascente do Cerrado em mais de uma vazão. Mato Grosso é meandro abandonado em mais de uma estação aonde a água corre cristalina. Mato Grosso é mais do que uma clareira clandestina. Mato Grosso é sina do progresso além de um celeiro abarrotado. Mato Grosso é muito mais do que um produto agrícola exportado. Mato Grosso é rebanho em campo cultivado. Mato Grosso é muito mais que um povo aldeão. Mato Grosso é verso antes de ser canção...

        Pela ordem, a nossa classe não será apequenada em acomodação palaciana. Pela ordem, integramos uma Pátria republicana. Pela ordem, temos direitos e deveres elencados em Carta Magna Constitucional. Pela ordem, temos obrigações com a cultura regional. Pela ordem, a poesia nem sempre nasce de parto natural. Pela ordem, a liberdade de expressão continua fundamental. Pela ordem, a manga Bourbon não nasce de cajueiro enxertado. Pela ordem, bagre ensopado nem sempre é mandi. Pela ordem, nem todos podem roer o mesmo pequi.

        Trezentos anos de cultura não se extinguem nem com reza brava. Vassouras nem sempre são feitas de fibras de piaçava. Aqui e acolá, uma voz se levanta para protestar. Aqui e acolá, um marco além de uma fronteira. Aqui e acolá, a miscigenada terra brasileira. Aqui e acolá, uma bandeira mais do que tremulante. Aqui e acolá, um Pavilhão a meio mastro agonizante. Aqui e acolá, um público mais do que pagante. Aqui e acolá, elegemos (e elegeremos) mais do que um representante.

        Nem tudo finda como principiou. Palavras o vento levou. Letras o tempo apagou. Quantas artes sem piso ficarão? Quantos artistas mato-grossenses destinados, como nós, a lamber do mesmo sabão? Sei não, assim vocês acabam nos decepcionando. Sei não, assim vocês continuam nos enganando. Fecha o cofre, passa a régua. Quem beijou, beijou. Fecha o caixão! Mato Grosso: Cultura ao avesso! Indignação! Imprimir