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30/07/2020 - 09:03

Cuiabá e seus campinhos de rua

                   Nas décadas de 60 e 70, era comum encontrar pelos bairros de Cuiabá, um campinho de futebol, e durante as tardes de sábado e domingo, eram realizados os “jogos de bola”, era só quicar a bola que a gurizada aparecia de todos os cantos das ruas.

                 Vamos lembrar-nos dos campinhos formadores de Crack de bola e tinha alguns “pernas de paus” , e cada bairro tinha um campinho e que se espalhavam por toda  Cuiabá, podemos citar alguns: da Av. Coronel Escolástico; da Rua São Benedito;  da Mandioca;  do Baú (Vila Isabel); do Bode; do Pico do Amor; da Rua da Fé e do Campo D’ourique;  do Petchê Gordo;  do Maurinho;  da Vila Militar;  do Bocó Moko e do Bate Bruaca;  do Praeiro;  do " Pela Jegue ;  da Área de Lazer do Araés;  da Prosol;  do Sá Barreto;  da Canjica;  do Ranca Toco;  da Vila Maria Esporte Clube;  do  Santa Cruz do Quilombo e do Comercial do Santa Helena; da D. Pulu;  do Sete de Setembro na Cohab Nova;  do seu Nadir;  da Rua  Benedito Leite, do "Morro da Caixa d' Água Velha"; da Mãe Santa no Coophamil;  da  Praça da Farinha, e muito outros. Campinhos estes que faziam  a alegria da gurizada  em Cuiabá, e eu como era peladeiro e arretado, corri atrás da bola em quase todos. 

               Esses campinhos na sua maioria,  eram construídos pela gurizada que faziam parte dos times, cada um trazia as ferramentas das suas casas e a base de “muxirum”, colocavam as traves (metas) feitas de madeira de piúva cortada no mato, a Bola era comprada através de cotas, cada um dava o que podia.

                     Em cada Campinho existia pelo menos um Crack, era aquele considerado o rei do pedaço; o metido; o mascarado; o artista da bola; o moageiro; o dez do time; o digoreste; o “touceira”, quanta saudade daquele tempo.

              Os componentes dos times, eram escolhidos através do “par ou impar”, e entre os presente, aquele que ganhava começa a escolher intercaladamente os jogadores presentes até completar os times, e aqueles que sobravam, ficavam aguardando um jogador cansar para ter a sua oportunidade para entrar no jogo, geralmente quem ficava de fora, era o perna de pau, era considerado muito ruim, e estes tinha a sua triste missão:  ficava de fora assistindo  ou virava goleiro.

              Os campinhos de ruas eram os formadores de futuros crack para as equipes amadoras e que posteriormente eram repassados para os Clubes profissionais, na verdade os campinhos de ruas, eram as escolinhas de futebol da época, e às vezes eram promovidos jogos entre os bairros: da turma do Baú contra a turma do Areão, a turma do Poção contra a turma do Porto, ou desta uma rua contra aquela outra mais próxima.
               
Como era bom viver em Cuiabá naquele tempo, aos Domingos os jovens componentes de cada bairro, promoviam as “Domingueiras Dançantes” ou “Matinês”, ao som de Sonatas, os jovens dançavam ao som das músicas da Jovem Guarda, ou dos conjuntos da época, Renato e seus Blue Caps; Leno e Lilian; Os Vips; The fivers; Os Milionários e The Beatles.

                   Eram reuniões festivas onde os Clubes dos bairros promoviam almoços para arrecadar fundos para comprar materiais esportivos (bolas, chuteiras e camisas) e nesses almoços mantinha a tradição da culinária cuiabana, pratos tipicamente cuiabanos: cabeça de boi assada com vinagrete e mandioca cozida; ou arroz de forno com Sarapatel de miúdos de porco, e a bebida principal era o Ponche, (feito de vinho fervido com maça picotada); ou a “Caipirosca” feita de Pinga com Limão, e no lugar dos refrigerantes, usava-se servir refresco feito de groselha ou limão, a palavra Droga não existia, ou era apenas um remédio, ou uma mulher feia; e ao fim da festa era só amizade, e a violência nem pensar, todos eram amigos de todos.

                  Hoje a violência é impulsionada pelo consumo da droga, hoje o Crack que reina nos bairros de Cuiabá, é a famosa pedra de droga que transforma a juventude cuiabana em geração perdida, jovens sujos e jogados pelas ruas como um corpo sem alma, andando de um lado para o outro sem rumo, promovendo violência e roubos para garantir o vício.

Saudade da velha Cuiabá da minha infância que não existe mais, “velhos tempos e belos dias”.
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