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30/09/2019 - 09:30

Chuva

Cá estou sentada na varanda.
De propósito, coloco a cadeira bem na beiradinha pro vento espirrar a água da chuva nas pernas, nos óculos, no rosto.
Viva.
A gente olha pro quintal, pro pasto, pras árvores e o marrom vai saindo.
Escorre.
Corre o João de Barro. O Sabiá. O Bem-te-vi.
O barro sabe o bem de verter.
Derrama.
O cheiro é impressionante. Inebriante.
Se a vida tem cheiro, é o de chuva.
Saio da cadeira, aventureira.
Vou no quintal. A chuva lava.
O corpo, a alma.
Limpa, rega.
E me sinto planta.
Estava seca e nem sabia.
Começo a rir. Uma síntese da foto.
Fotossíntese.
Olho para meus pés.
Raiz. E a cada chuva enraizo mais.
Na terra. Minha terra. Minha casa.
A chuva na fazenda faz a gente brotar de certezas.
Do novo ciclo.
É a aula de que tudo renasce.
Da tempestade, a bonança.
E aprendo o que a chuva traz:
a paz do recomeço.
E choro.
De alegria.
Virei chuva.
E não sabia.
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