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06/05/2019 - 16:18

Engajemo-nos!

Erros são erros, e os seus prejuízos são sentidos [na pele] por todos. Um erro cometido no passado não deve servir de salvo-conduto para o cometimento de um erro no presente – um erro não relativiza, justifica ou ameniza o outro. Erros são erros. Até porque, quando tratamos sobre temas pertinentes ao desenvolvimento social do país, e de seus impactos na vida da população, não podemos agir como se estivéssemos brincando em um playground, ou como se estivéssemos em uma disputa de “quem possui a grama mais verde do quintal”. Há uma lógica dos erros. Talvez mínima, mas há.

Uma lógica que, ao acompanharmos as decisões de nossos governantes, seus motivos, interesses e intenções, seja de qual grupo for, mostra-nos que um erro eventualmente cometido por um, não deve servir de tese de defesa para se legitimar um erro cometido [ou a ser cometido] por outro; tampouco deve servir, como anda acontecendo no mundo – nada encantado – dos memes e das fakenews, de objeto de “lacração” [Que fase!]. O caso é sério, pois, da mesma forma, que erros são erros, como consequência destes, prejuízos são prejuízos, e independentemente de quem os tenha dado causa, repercutirão negativamente para muitos.

Falo sobre erros e prejuízos não à toa. Venho observando que, como resposta às manifestações contrárias aos anúncios, por parte do Governo Federal, dos cortes de verbas para as Universidades e Institutos Federais, começaram a circular [nas redes sociais e em grupos de WhatsApp, é claro], comentários, montagens, vídeos, dentre outros conteúdos, apresentando, cada um a seu modo, ora o argumento comum de que os cortes e os contingenciamentos anunciados não são novidades, uma vez que já haviam acorrido antes, especialmente nos governos do partido com o qual o atual Presidente da República mais se antagoniza; e ora o argumento comum de que é necessário “moralizar” as Instituições públicas, como se estas merecessem algum tipo de punição.

Parece coisa de criança. Porque um fez ou deixou de fazer, então agora é plenamente possível que se faça ou se deixe de fazer. Ou, se não houve reivindicação antes [o que é mentira], então agora não será mais permitido. Afinal, estamos preocupados com o Brasil ou com quem lacra mais nos stories ou nos posts do Instagram? É da educação brasileira que estamos falando ou da quantidade de seguidores, curtidas e retweets no Twitter?

E assim seguimos, esvaziando e infantilizando o debate político e negando inclusive a relevância do assunto – resquícios, muito provavelmente, de um processo eleitoral um tanto controvertido, baseado no ódio, na desinformação, num prepotente e mentiroso revisionismo histórico[1] e na ausência de discussões profundas e críticas sobre um projeto de país. Sim, seguimos; seguimos – cada vez mais rápido – rumo ao abismo.

Pensar, refletir e colocar em prática políticas públicas educacionais são ações que exigem de nós – e, no mesmo grau de importância, exigem daqueles que estão ocupando os espaços de Poder, um diálogo maduro, fundamentado, e de muita, mais muita humanidade. Os estudantes, os professores, os pesquisadores, os técnicos, as comunidades escolares e as comunidades acadêmicas são mais do que estatísticas, do que números em uma planilha; são eles, que, em rede, com muito empenho, garra, e lidando cotidianamente, sem esmorecer, com a escassez, contribuem para o progresso brasileiro.

Não nos esqueçamos de que, no Brasil, a rede de Educação Básica pública é responsável pela formação da maioria das crianças e dos jovens, e que, mesmo diante das dificuldades, por problemas que estão para muito além de uma discussão curricular, faz a diferença, e como faz. E não nos esqueçamos também de que a rede de Ensino Superior pública, no Brasil, segundo dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), é responsável por mais de 90% do desenvolvimento de pesquisas científicas e inovação tecnológica, produtividade que nos insere em alguns muitos rankings mundiais.

Registro essas [breves] lembranças, muito em função de destacar a dimensão e o prestígio do sistema educacional brasileiro [como um todo], sem, por certo, romantizar ou dar de ombros para as suas mazelas, mas também para que somemos esforços em sua defesa e em seu avanço, e não em seu recuo ou em seu enfraquecimento.

Repito o óbvio: o direito ao estudo [à educação] não é um gasto, é um investimento, e um bom investimento, por sinal. É do estudo que novas interpretações e leituras [da] e [sobre] a realidade aparecem; que outros sentidos são possíveis; que o progresso se democratiza; que a resistência ao que afronta as nossas cidadanias se fortalece. É do estudo que as pessoas se transformam e, ao mesmo tempo, transformam o mundo.
Conjuguemos e nos apropriemos do verbo engajar-se: engajemo-nos! O caso e a causa merecem!

Um desfecho mais propositivo: no intuito de que a educação PÚBLICA não se cale e de que os espaços de produção de conhecimento de ponta continuem a TRANSFORMAR vidas – como TRANSFORMOU a minha e de tantas outras pessoas – é necessário compreendermos juntos a situação que está colocada e levantarmos a bandeira em defesa da educação pública de qualidade. Como tantos outros colegas de profissão, não me canso de dizer que a educação não se constrói com chantagens, com ameaças, com filmagens, com barganhas ou acusações, mas sim com liberdades e libertações! Pensando nisso, peço que compartilhem com seus parentes, amigos e colegas o quão transformadora foi a sua experiência na Escola ou na Universidade. Compartilhem os textos, as produções em geral e os trabalhos que vocês tenham escrito durante o período; os eventos científicos que vocês porventura tenham participado; bem como as palestras e as conferências que vocês tenham organizado. Combinados?
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