Imprimir

Imprimir Artigo

30/04/2019 - 14:40

PERFILOPLASTIA VIRTUAL: O desenvolvimento de um método de confrontação pré-operatória do resultado desejado

Não precisei de muito tempo durante minha especialização em cirurgia plástica para chegar a conclusão de que a rinoplastia seria a minha cirurgia preferida. O papel, literalmente, central que o nariz cumpre na face de uma pessoa proporciona um grau de importância muito grande a este procedimento, também chamado de a “rainha das cirurgias plásticas”. 

   Além do mais, ao descobrir que muitos cirurgiões plásticos devidamente formados não conseguem (e talvez nunca conseguirão) dominar esta cirurgia, despertou-se em mim o principal combustível de minha vontade: o desafio. Por fim, o autoconhecimento de meu perfil psicológico era uma outra pista da conexão que aquela cirurgia poderia ter com minha pessoa. Um procedimento tão rico em detalhes tem de ser realizado por alguém muito detalhista, extremamente exigente e incansável na busca pela perfeição. 

   No período entre 2008 e 2011, em Niterói-RJ, eu e mais alguns colegas operávamos em torno de 10 narizes por semana em um hospital chamado Centro Previdenciário de Niterói (CPN), o qual prestava atendimento de cirurgia plástica estética e reconstrutora via SUS. Buscávamos as famosas 10 mil horas de experiência, marca esta que segundo um estudo conduzido pelo psicólogo norte americano K. Anders Ericson, afirmou que seria o número de horas necessário para qualquer ser humano atingir a excelência na realização de qualquer atividade.

   Mas foi mais tarde, durante os estudos de anatomia e manobras cirúrgicas nasais no Anathomical Laboratory da UT Southwerstern em Dallas- EUA que comecei a me perguntar:

- Como os pacientes saberão que estudei tudo isso?
- Como passarei confiança aos pacientes ainda sem ter cabelos brancos? 
- Como as pessoas confiam seu nariz a um cirurgião sem ter a mínima ideia de como vai ficar?

    Bem... antes de explicar aonde essas perguntas me fizeram chegar, gostaria de falar um pouco sobre de que forma eu vejo a conduta de um cirurgião plástico frente a um paciente que quer mudar seu nariz ou qualquer outra parte do corpo. Apesar de todo o glamour que a sociedade atual confere aos cirurgiões plásticos, me vejo apenas como um prestador de serviços. 
   Não posso jamais impor meus gostos pessoais aos resultados cirúrgicos que os pacientes que vem até mim para alcançar. Da mesma forma, também não posso fazer o mesmo nariz para todas as pessoas que aparecem. O bom cirurgião será aquele que conseguir chegar ao mais próximo possível daquele objetivo que foi devidamente conversado com o paciente nas consultas pré-operatórias.    

   É preciso conversar com o paciente, “sentir” o paciente, entender o perfil psicosocial do paciente. Há lindos narizes que não combinam em todas as faces. Me colocar no lugar dos pacientes e imaginar quais seriam as dúvidas, anseios e almejos foi o primeiro passo para desenvolver o que chamo hoje de perfiloplastia virtual.
Sabendo que os pacientes absorvem apenas 30% das informações que passamos na primeira consulta, comecei a me questionar de qual porcentagem de informações, nós médicos, absorvemos dos pacientes na primeira consulta.

   Entregando papel e caneta na mão dos pacientes notei que muitos estavam dispostos a tentar rabiscar como seria o novo nariz desejado.

 "Quero mais assim, mais assado..."
"Quero inclinar mas não muito..."
 "Tenho medo de ficar aparecendo as narinas..."
 "Acho muito largo aqui..." 
"Tem como fazer isso aqui?"

    Os rabiscos pareciam pré históricos mas definitivamente tinham muito valor para o meu entendimento do que realmente os pacientes queriam. Certo dia, atendi um paciente no Rio de Janeiro. No cabeçalho da ficha de atendimento li que o mesmo trabalhava com informática. Queria mudar seu nariz e explicou com detalhes as modificações que gostaria que eu executasse. Em geral os pacientes não são tão detalhistas e, muitos, só dizem que querem mudar mas nem sabem ao certo o que. Não os condeno, é apenas um outro jeito de ser. 
   Hehehe... Inclusive gostaria muito de ser assim em outros aspectos da vida... Ao término da conversa, puxou um ipad da mochila e mostrou uma seqüência de 4 fotos da sua face com as exatas modificações nasais que me pedira durante a consulta.

“Como vc fez isso?” perguntei...

   Descobria em meu consultório umas das maiores ferramentas de confrontação de resultado pré-cirúrgico entre o médico e o paciente. 

   Através de algumas fotos da face do paciente realizadas no próprio consultorio, é possivel simular e confrontar possíveis resultados na consulta pré-operatória.
Na face é possivel a simulação de tratamentos estéticos do queixo, nariz, posição da sobrancelha, etc...

    As fotos são realizadas e o ipad é entregue ao paciente. O mesmo é então estimulado a fazer com o próprio dedo as alteracões que gostaria e eu vejo se aquilo é possivel cirurgicamente na vida real.

   Realizar a PERFILOPLASTIA VIRTUAL previamente à cirurgia promove a confrontação ideal entre o que o paciente quer e o que é possível de ser realizado pelo cirurgião. 

   Por fim, é importantíssimo frisar que em momento algum ocorre a "promessa" de um resultado mas, sim, o melhor método que encontrei até hoje para esclarecer dúvidas estéticas tridimensionais e deixar os pacientes mais seguros e confiantes antes da cirurgia proposta.
Imprimir