Artigos / Renato Gomes Nery

21/06/2017 - 11:50

​Jorge Bastos Moreno

Este dia 14.06.2017 me pegou desprevenido. Estava eu me aprontando para ir ao pilates e uma notícia arruinou meus planos. A televisão estava ligada e o Jornal da Manhã  anunciou a morte de  JORGE BASTOS MORENO. Um nó  atravessou  da minha garganta e passei o dia angustiado.
 
            O tempo voltou e me lembrei do início da década de 70, quando erámos jovens alegres e descompromissados, nos corredores da Escola Técnica Federal. O Jorge era magrinho, ágil e informado de tudo que acontecia. Ele sabia de tudo: intrigas, fofocas e dos acontecimentos mais diversos. Não é sem motivo que se tornou um grande jornalista. Não sei se ele perseguia as notícias ou  se estas o perseguiam.
 
 Ele morava na Rua Presidente Marques na altura da ETF/MT. Tínhamos um grupo de colegas que estava sempre na sua casa, perturbando o sossego de sua mãe. Um tempo inesquecível que se perdeu nas brumas do tempo.
 
Ainda ontem eu tive que levar meu filho para uma consulta no Hospital Santa Helena. Fiquei intrigado com uma placa no Ponto de Taxi que fica em frente o Hospital, onde está escrito o seguinte: PONTO DE TAXI – José Susdeberto Moreno “Juca Quati”. Lembrei-me da sua origem humilde e de que o seu Pai era motorista de taxi, mas não me preocupei em informar a respeito. Quando anunciaram, no dia seguinte, a sua  morte eu me lembrei e voltei lá e perguntei aos motoristas de  taxi do ponto e confirmei a minha suspeita, era sim o pai do Jorge que trabalhou  durante muitos anos naquele ponto e quando ele morreu os seus colegas o homenagearam colocando seu nome no ponto.  
 
Ele não chegou de terminar o segundo grau na ETFMT e mudou-se para Brasília, onde iniciou a sua bem sucedida carreira de jornalista. Eu o encontrei, posteriormente, duas vezes. Uma no Balneário de Sesc e outra quando ele lançou, em Cuiabá, o Livro – A HISTÓRIA DE MORA – A SAGA DE ULISSES GUIMARÃES. Não damos conta da distância que se formam entres as pessoas.
 
 Ele se queixou para mim que os amigos dele de Cuiabá tinham sumido. Eu lhe dei o meu cartão e me coloquei à sua disposição. Isto aconteceu, em 16.08.2013. E o meu exemplar do livro tem a  seguinte dedicatória: “Ao Grande amigo Renato Nery, um pouco da história deste País. Abraço, Moreno”. Ele ficou de me telefonar, mas não o fez. Nunca mais o vi a não ser outro dia num programa de televisão. Na época, conversei com um primo dele que disse que ele se queixava que não tinha mais ninguém em Cuiabá, após a morte de seus pais. Tive a impressão que ele estava doente pelo seu aspecto, o que foi confirmado por um jornalista de Brasília.
 
Como este artigo é de memórias afetivas, não vou falar do grande homem e jornalista inconteste que ele foi. Isto é público e notório, haja vista a repercussão de sua morte. O livro referido é de um grande escritor  com um estilo cativante. Pensei em lhe falar  que deveria dedicar-se a literatura,  mas não tive oportunidade.
 
Espero, Jorge, que você já se encontre em Ítaca num caloroso “bate papo” com Ulísses Guimarães, a quem você dedicou grande parte de sua vida. Vai ter muita coisa para lhe contar, pois você parte num momento turbulento e difícil da vida nacional. A sua lucidez e o seu imenso talento vão fazer  muita falta.
 
Que se tenha a iniciativa de lhe prestar uma grande homenagem - que não fique apenas no nome de uma escola como prometeu o Governador - nessa quadra onde o Estado de Mato Grosso e o Brasil se ressentem tanto com a  carência de homens de bem. 
Renato Gomes Nery

por Renato Gomes Nery

é advogado em Cuiabá
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