Artigos / Gil Thomé

01/06/2017 - 08:54 | Atualizado em 01/06/2017 - 10:41

O pertencimento na relação pais e filhos

Quem são os pais de nossos filhos? Eu e outra pessoa. Portanto dois materiais genéticos produzem vida (para compreensão mais simplificada do artigo deixarei de lado o avanço da ciência e a mistura de mais material genético na produção de vida, ok?).

Portanto, do ponto de vista sistêmico, filho signfica pai e mãe biológicos. Se somos frutos de um pai e uma mãe, então pai e mãe tem o mesmo direito de pertencer dentro de nós.

Se pai e mãe tem o mesmo direito de pertencer dentro de nós, o material genético de ambos também tem igual direito de pertencimento.

O material genético de nossos pais nos transmite características físicas, comportamentais, etc (a epigenética já descreve que herdamos inclusive memórias traumáticas de nossos ancestrais).

Se somos produto desse conjunto de heranças, nada pode ficar de fora, ou seja, tudo tem direito de pertencer. Você se lembra de quando era criança e alguém fazia uma crítica sobre seus pais?

Como você se sentia com isso? Era desconfortável, certo? E porque era desconfortável? Porque sentíamos que a pessoa que criticava nossos pais estava, num nível profundo, criticando a nós mesmos.

Se sou filho, sou o meu pai e a minha mãe dentro de mim, logo, se alguém critica meus pais, critica a mim, por isso sinto tanto desconforto.

É como se a crítica da outra pessoa dissesse "seus pais são errados, então você é errado", e julgar que o outro é errado é uma das formas de exclusão. Exclusão é algo sentido desconfortavelmente no corpo.

Bem, mas o que isso tem a ver com a relação com os nossos filhos? Se sou mãe e critico algo no pai dos meus filhos (algo pode ser a forma como ele conversa, negocia, educa, come, bebe, ama, etc) estou dizendo aos meus filhos "o jeito como seu pai é/faz é errado, portanto não seja errado como ele".

E como você acha que meus filhos sentem isso? Você acha que isso é confortável para o meus filhos?

Criticar/julgar/excluir o pai dos meus filhos é o mesmo que criticar/julgar/excluir meus próprios filhos.

Bem, aqui você já deve ter começado a perceber a origem da maioria dos conflitos entre pais e filhos; aliás, Bert Hellinger, psicoterapeuta alemão que descreveu sobre as Ordens do Amor, cita, em um de seus livros, que a origem da maioria dos conflitos (inclusive guerras mundiais) inicia quando alguém diz "eu sou melhor do que você".

Então, quando um dos pais desrespeita/exclui o cônjuge, tira o direito desse cônjuge de ser/fazer exatamente como ele é/faz.

O fato de um casal estar casado ou separado nada muda nesse contexto: tirar o direito do pai/mãe de ser/fazer do modo como ele/ela é/faz é sentido pelos filhos como desrespeito/exclusão.

Desrespeitar o direito do parceiro de pertencer provoca vários efeitos nos filhos. Vou dar um exemplo bastante extremo para ilustrar um dos efeitos de excluir o pai/mãe: trabalhando com uma reeducanda num presídio feminino, observei como ela falava com raiva da própria mãe.

Essa reeducanda dizia que a sua mãe nunca deixou que ela, a filha, fosse visitar o pai na cadeia (um assassino), temendo que o pai fosse um "mau exemplo" para a filha.

Conforme ela foi descrevendo a infância e como sentia mais falta do pai cada vez que a mãe criticava/excluía o ato assassino dele, perguntei sobre o que ela havia feito para ter sido presa.

Por um momento ela ficou em silêncio, logo em seguida ela sorriu e me disse "eu vim encontrar meu pai". Casos assim são mais comuns do que se imagina, acredite!

Frequentemente um filho/filha age exatamente como um de seus progenitores, mesmo quando essa ação lhe causa um dano, e tudo isso em nome de incluir (eu sou como você, papai/mamãe) aquele progenitor que foi excluído.

Nossos filhos, por vezes, repetem o jeito de ser/fazer do nosso cônjuge quando sentem que nós criticamos/julgamos o que o nosso parceiro é/faz.

Ou, por vezes, nossos filhos se voltam contra nós, ou com raiva, ou com desprezo, quando sentem que criticamos/julgamos/desrespeitamos nossos parceiros.

Ou, por vezes, nossos filhos perdem potência na vida, como se não permitissem "dar tudo o que tem", porque "dar tudo o que tem" significa dar também aquela parte criticada/julgada/desrespeitada por um dos progenitores, e isso certamente é errado, porque se fosse certo, isso não seria tão criticado/julgado/desrespeitado.

Compreende agora como o pertencimento do nosso parceiro(a) - ou ex parceiro(a), produz uma relação mais relaxada e confiante com os nossos filhos?

Ah, e mais uma vez, não acredite em mim...experencie um olhar de inclusão para o jeito de ser/fazer do pai/mãe de seus filhos. 
Gil Thomé

por Gil Thomé

É Consteladora em Mato Grosso.
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