Artigos / Dirceu Cardoso Gonçalves

24/05/2017 - 12:05 | Atualizado em 26/05/2017 - 08:07

O naufrágio da Sexta República

            Ao mesmo tempo em que o presidente Michel Temer se esforça para dar um aspecto de normalidade e tranquilidade ao seu governo, anunciando o propósito de trabalhar pela aprovação das reformas, os seus aliados já discutem nomes para sucedê-lo em caso de impeachment ou da aconselhada renúncia. Essa falta de sintonia expõe a fragilidade do momento. Tanto que as agências de risco, que dão o tom da atividade econômica mundial, já começam a baixar a classificação do país, de sua rede bancária e de outros ramos de negócios aqui baseados. A manter-se essa tendência, não demorará muito para os avanços pós-impeachment serem anulados pela recaída da crise e o país voltar ao nível de descontrole que determinou o afastamento da ex-presidente.

            Beneficiado pelo ar de seriedade que parecia emprestar ao governo depois da catástrofe que se abateu sobre as gestões petistas, Temer resta agora atropelado pelos acontecimentos revelados na delação dos donos da JBS e por escândalos paralelos envolvendo ministros e assessores diretos. Fica para o povo a impressão de ter trocado seis por meia-dúzia, e de que, além de trocar o governante, é preciso algo mais profundo, que dê segurança ao Estado e impossibilite os maus hábitos arraigados nos escaninhos do poder.

            A maior dificuldade que os partidos encontrarão ao buscar nomes para a sucessão de Temer, seja pela renúncia, pelo impeachment ou mesmo para 2018, está no encontro de alguém que some representatividade político-eleitoral e ficha limpa. Só no Senado, 24 dos 81 senadores são citados na Lava Jato e estima-se que pelo menos outros 10 ainda deverão cair nas malhas da operação através das delações que virão. Na Câmara também é grande o número de implicados e muitos ainda integrarão a lista, já que só a JBS, provocadora da atual hecatombe política, confessa ter dado dinheiro a mais de 1800 políticos.

            O quadro mostra, cada dia mais, que a solução do problema brasileiro não está na simples troca de governo. Precisamos de uma verdadeira revolução ética, moral, política e administrativa. De uma completa remodelação da máquina pública, que a torne eficiente e livre dos sanguessugas que - por ineficiência, desídia ou corrupção - impedem que o Estado devolva ao povo serviços públicos compatíveis com os tributos arrecadados. E que corruptos e corruptores sejam tratados como autores de crimes hediondos, sendo encarcerados sem o direito de recorrer em liberdade e, além disso, tenham seus bens colocados em indisponibilidade até que se apure a extensão dos danos  causados e se faça o ressarcimento, sem prejuízo das penalidades cabíveis.

A chamada Sexta República Brasileira, do jeito que se encontra, naufragou. Que venha a Sétima, sem os vícios que hoje nos conduzem à bancarrota...
Dirceu Cardoso Gonçalves

por Dirceu Cardoso Gonçalves

Tenente – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)
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