Artigos / Paulo Fanaia

30/03/2017 - 08:45

A evolução de Cuiabá

A região hoje conhecida como Cuiabá, foi elevada à categoria de cidade no ano de 1818. Por possuir riquezas minerais, suscitou o interesse de portugueses, que aqui chegaram no período de 1673 a 1680.

Em 1719 Pascoal Moreira Cabral Leme, adentrou o Rio  Coxipó-Mirim, e no local denominado Forquilha fez o seu acampamento. Nesse local, a 8 de abril, lavrou-se o termo de fundação do arraial. A mudança de Cuiabá para o sítio atual se deve ao sorocabano Miguel Sutil de Oliveira e outros, que chegaram até à embocadura do córrego "Prainha" onde, guiados pelos aborígines, encontraram maior abundância do precioso metal.

No ano de 1723, nas proximidades do córrego, foi construída a Igreja Matriz, dedicada ao Senhor Bom Jesus de Cuiabá. Próximo às minas, os escravos construíram uma capela dedicada a São Benedito. As minas e a Igreja Matriz foram importantes focos de atração do povoamento da cidade no sentido Leste-Oeste. Assim orientadas, foram surgindo ruas paralelas ao córrego da Prainha, aproveitando as curvas de nível do terreno, e nelas levantadas as primeiras habitações que consolidariam o espaço urbano de Cuiabá.

O Largo, que existia na parte lateral da Igreja Matriz, passou a ser chamado Largo do Palácio Provincial, após a construção do edifício-sede do governo. Com desenhos definidos, as praças passaram a constituir pontos de atração, amarrando novas vias paralelas e transversais. A mancha urbana desenvolveu-se entre o Largo da Mandioca e os Largos do Palácio Provincial e da Matriz.

O movimento urbanístico decorrente da transferência da capital para Cuiabá contribuiu para que, no início do século XX, a cidade começasse a ganhar as características de metrópole que tem hoje.

Na segunda metade do século XIX, a Guerra do Paraguai repercutiu no desenho da cidade. No Porto Geral, às margens do Cuiabá, assentou-se o acampamento militar Couto Magalhães, dando origem à formação de um bairro popular que atingiria grande densidade populacional na primeira metade do século XX, mais tarde a cidade de Várzea Grande.

Nessa fase o crescimento urbano permeava os dois polos de atração nucleados anteriormente: o das minas do Rosário e o do Porto Geral. O crescimento deu-se do Rosário em direção ao Porto, seguindo duas vias de ligação: uma pela margem direita do Prainha, continuando a Rua Bella do Juiz; outra pela margem esquerda, a partir da Santa Casa, rua por onde caminhavam os pescadores, posteriormente chamada Rua Nova. Hoje se chama Rua D. Aquino.

A construção do Arsenal de Guerra, do Quartel da Legião da 1.ª Linha, do Laboratório Pirotécnico e da Cadeia Pública, nas proximidades do Porto Geral, ensejaria o ordenamento de importantes vias públicas, como a 13 de Junho e a 15 de Novembro. Porém, o tecido urbano apresentava muitos cortes, pois não se fez contínua e uniformemente: grandes lacunas espaçavam os pequenos aglomerados de casas que esboçavam as novas vias.

Em 1858 foi fundado o Seminário da Conceição na colina do Bom Despacho, e em 1871 foi construído um chafariz no Largo da Conceição, ao pé do morro posteriormente denominado Dom Bosco. Várias moradias construíram-se no Largo da Conceição e arredores, morro acima na direção da Santa Casa de Misericórdia — começava o Mundéu.

No final do século XIX, com a expansão da atividade extrativista e da produção agroindustrial, consolidou-se a mancha urbana do Porto Geral. Teve início também a integração da pequena localidade do Coxipó à malha urbana da cidade. O Coxipó veio a se firmar definitivamente como aglomerado urbano após a abertura da estrada para Campo Grande nos anos de 1940.

A cidade no decorrer de sua história vem sofrendo profundas transformações no seu espaço urbano, observa-se que o centro comercial de Cuiabá sofreu alteração no que diz respeito ao desenho arquitetônico de suas construções, perdendo suas características originais, dando lugar a estilos mais modernos de construções. Na atualidade, já se viabilizam novos projetos urbanísticos de recuperação do centro histórico, inclusive alguns munícipes, que possuem imóveis no centro da capital, já iniciaram a recuperação de casarões antigos, avivando a memória cuiabana.

Com o crescimento e desenvolvimento urbano do município novas necessidades surgiram, alterando o desenho urbanístico do centro da cidade, e novos bairros foram criados a partir de invasões de áreas próximas ao Centro Político Administrativo e em direção a região nordeste do município. Com a criação do Parque Mãe Bonifácia, houve uma grande valorização das áreas em seu entorno, que vem provocando modificações nas construções que hoje privilegia o processo de verticalização.

Por outro lado o crescimento horizontal da cidade é observado na periferia da cidade, com o surgimento de novos bairros de alta densidade populacional, sem infraestrutura, composta na sua grande maioria por migrantes de baixa renda, a exemplo do bairro Altos da Glória que se constitui como uma típica favela.

No século XXI a cidade de Cuiabá sofreu uma das maiores interferências em sua estrutura urbanística em virtude da participação da cidade como uma das sedes da copa do mundo de futebol. A cidade nos últimos trinta anos nunca teve uma interferência tão grande em seu espaço, várias trincheiras, viadutos, o estádio, prédios, pontes, novas avenidas, trilhos para o VLT, obras estas que deveriam melhorar a mobilidade urbana e que preparariam a cidade para um evento internacional. Tudo isso provocou profundas mudanças na paisagem da cidade.

No entanto, muitas destas obras ainda não foram concluídas, outras mal projetadas que ao contrário do que se esperava vem causando sérios transtornos para a população local. Com a falta de estudo adequado de drenagem, má condução no processo da negociação das indenizações com os moradores, material inadequado utilizado nas obras e desvios de recursos as obras estão inacabadas, e a cidade com ar de abandono e sem administração.

Cuiabá que deveria entrar no século XXI com obras que a tornariam grande até o presente momento vem tirando o orgulho daquele que habita a cidade verde.

Como se observa Cuiabá completará 298 anos e é uma cidade grande, com inúmeros edifícios, áreas inteiras verticalizadas, e com todos os problemas decorrentes desse crescimento mas, que apesar de todas as transformações que vem sofrendo ainda conserva os seus casarios coloniais e as suas tradições culturais e a sua arquitetura.
Paulo Fanaia

por Paulo Fanaia

é geógrafo formado pela UFMT e especialista em planejamento cartográfico
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