Artigos / Dirceu Cardoso Gonçalves

13/03/2017 - 11:14

A lista de Janot e a esperança do povo

               O tema dominante da política nacional, esta semana, não é desenvolvimento, reformas ou as futuras eleições. Brasília está apreensiva com a lista de 80 denúncias que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deve apresentar ao Supremo Tribunal Federal como decorrência das delações dos executivos da Odebrecht na Operação Lava Jato.  Estima-se que 200 políticos, entre os quais quadros importantes dos partidos no Congresso Nacional e pelo menos dois ministros, estejam entre os denunciados. A corte política está inquieta e deverá assim continuar até que o relator, ministro Edson Fachin, decida se mantém ou retira o sigilo dos feitos e, principalmente, se aceita os argumentos do Ministério Público para processar os envolvidos. O presidente Michel Temer disse que ministro que se tornar réu tem de deixar o governo.

                Tanto Temer quanto os seus aliados e articuladores parecem não saber que mensagem utilizar para conter a possível debandada dos denunciados, cujos votos são necessários para aprovar os projetos de interesse do governo. Acossados pela justiça, os parlamentares poderão pensar mais na própria proteção do que nos interesses do Palácio do Planalto. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (PMDB-RJ) já desistiu de colocar em pauta o polêmico projeto da terceirização no trabalho, que seria votado esta semana. Também pode ocorrer atraso na tramitação da reforma da previdência. É preciso compreender que quem tem contas a ajustar com a justiça deve fazê-lo e que isso não pode nem deve interferir no governo e nas suas relações com o parlamento.

                O quadro de instabilidade é apenas o efeito dos maus hábitos da classe política nacional. As delações referem-se basicamente à destinação de recursos obtidos através do superfaturamento de obras governamentais, cujos adicionais são destinados ao custeio das campanhas eleitorais.  Demonstram que praticamente toda a classe tem sua legitimidade sob suspeição pela forma fraudulenta com que eram pagas as despesas de campanha. Eleitos com doações de grandes corporações que trabalham para o governo, todos ficam sem a necessária independência para legislar e, principalmente, para contrariar os interesses desses capitalistas que, obviamente, não são os mesmos do povo brasileiro.

                Nesse quadro, o melhor a fazer é começar as reformas pela política, para extirpar o mal que compromete a representatividade da classe. Paralelamente, a conveniência maior é que o governo adote medidas para aquecer o mercado e trazer de volta pelo menos parte dos milhares de empregos perdidos nos últimos anos de política econômica desastrosa. Se conseguir avançar nessas duas frentes, o Brasil estará salvo e as demais reformas virão como imperativo do momento e da sociedade. A "lista de Janot", desde que bem compreendida, poderá ser apenas o limão que, isoladamente é azedo, mas pode se transformar numa saborosa e benfazeja limonada dentro de um Brasil novo, sem corrupção, acreditado pelos investidores, com pleno emprego e servido por políticos acima de qualquer suspeita...
Dirceu Cardoso Gonçalves

por Dirceu Cardoso Gonçalves

Tenente – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)
+ artigos

Comentários

inserir comentário
0 comentários

AVISO: Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do Jornal Oeste. É vetada a inserção de comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros. O site Jornal Oeste poderá retirar, sem prévia notificação, comentários postados que não respeitem os critérios impostos neste aviso ou que estejam fora do tema da matéria comentada.

 
Sitevip Internet