Artigos / José Antônio Lemos dos Santos

13/02/2017 - 10:48

A mais viável das ferrovias

Este seria meu sétimo artigo com o mesmo título desde a década passada, mas desisti de numerá-los. A mais viável das ferrovias torna-se cada vez mais viável e ainda não está construída a dois anos do trigésimo aniversário de sua concessão pela União. Absurdo!
 
Só não vê quem finge não ver. Enquanto isso todos perdemos ao longo das rodovias incompatíveis com a extraordinária capacidade mato-grossense de produção de cargas, de ida e de volta. Boas notícias recentes sobre o assunto me levam a voltar a ele.
 
Primeiro a reativação pública do importante Fórum Pró-Ferrovia, sob a coordenação de Francisco Vuolo, já com uma reunião (20/01) com o governador Pedro Taques assinando a “Carta de Mato Grosso – Ferrovias”, encaminhada no último dia 26 à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), que se comprometeu a avaliar a extensão dos trilhos de Rondonópolis até Cuiabá, e sua continuidade até Sorriso.
 
Cabe destacar que o governador na oportunidade teria vestido a camisa dessa importante continuidade ferroviária, outra desejada e alvissareira notícia, já que nenhum outro governo assumiu de verdade essa causa, depois de Dante de Oliveira.
 
A terceira boa notícia é uma que se repete a cada ano, Mato Grosso, o estado campeão, bate de novo seu próprio recorde na produção agropecuária, consolidando-se como disparado o maior produtor agropecuário nacional e responsável pelos sucessivos saldos na balança comercial brasileira, sem o qual a péssima situação da economia nacional estaria pior ainda.
 
A má notícia é que voltamos a ouvir falar em avaliações, estudos de viabilidade, de traçados e etc. como se tudo estivesse começando agora. Em 2000 assisti pessoalmente à primeira audiência pública do traçado até Cuiabá. Foi no edifício Edgard Arze, presentes também o saudoso senador Vuolo e o atual secretário de Planejamento do estado Guilherme Muller.
 
O traçado proposto pela Ferronorte até Cuiabá estava exposto em pranchas heliográficas no saguão do auditório. Foi tudo discutido e a única restrição oferecida foi que o traçado passava a 700 metros da Reserva Tereza Cristina, próximo, mas fora, rio abaixo. Embora não tenha visto nenhum índio presente, essa restrição acabou levando a um parecer desfavorável da FUNAI, ainda que a empresa aceitasse fazer um traçado mais afastado.
 
De lá para cá foram muitos outros estudos de viabilidade, o último entregue em 2015 pela UFSC apontando a viabilidade e o melhor traçado para a chegada a Cuiabá, tudo pago e recebido pelo estado e também encaminhado à ANTT. Agora, volta a lenga-lenga. Podemos ser bobós, mas nem tanto. Na verdade não querem ligar o sul com o norte de Mato Grosso por que querem dividi-lo. Nem por ferrovia, nem por duplicação rodoviária.
 
A trágica problemática logística serve de pretexto para poderosos grupos internos e externos brincarem de geopolítica. Os daqui querem mais cargos políticos. Os de fora dizem que Mato Grosso unido fica muito forte. Assim nos empurram goela abaixo que a FICO de 1200 km é mais prioritária do que a ligação de apenas 460 km entre Rondonópolis e Nova Mutum passando por Cuiabá, sem Himalaias, Xingus, Sapucaís ou Araguaias a vencer. A BR-163 é a espinha dorsal de Mato Grosso e o traçado original da Ferronorte ligando Cuiabá à Santarém ou Miritituba e Porto-Velho consolida essa espinha preservando o poderoso estado unido de Mato Grosso.
 
Querem criar duas economias, a do norte ligada a Goiás, ao invés de se integrá-la à do sul verticalizando a economia com o gás boliviano e a ZPE de Cáceres.
 
Enquanto isso, a economia perde, o meio ambiente é sacrificado e o povo mato-grossense chora o trabalho desperdiçado nas estradas, seus mortos e mutilados.
José Antônio Lemos dos Santos

por José Antônio Lemos dos Santos

É arquiteto e urbanista, e professor universitário em Mato Grosso.
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