Artigos / Dirceu Cardoso Gonçalves

17/11/2014 - 12:14

As ruas e o fim da propina

O inimaginável aconteceu. Dirigentes e altos executivos das empreiteiras que dominam o mercado da infraestrutura no país estão presos e revelam a quem deram propina para conseguir contratos de obras custeadas pelo governo e por empresas estatais.

O foco é a Petrobras, mas suspeita-se que a roubalheira também se estenda ao setor elétrico e, muito provavelmente, a outros empreendimentos governamentais. Tudo muito simples: se não “molha a mão” do propineiro estrategicamente colocado em altos cargos de nomeação política, a empreiteira não consegue o contrato e não trabalha.

Há muito tempo fala-se em propinas “em toda obra pública”, mas só agora o crime vem às claras e – segundo os bastidores – já existe até uma relação de 70 políticos citados como beneficiários dos milhões desviados da Petrobras.

Noticia-se que dois dos empresários já pediram delação premiada – onde se comprometem a contar tudo em troca de redução da pena – e deram os nomes dos beneficiários de suas propinas. Os demais não podem perder essa oportunidade de abrandamento de suas penas, entregando também a relação daqueles que corromperam.

Eles não ignoram que já estão com problemas e se fizerem como fez o publicitário Marcos Valério – que não declinou os nomes de seus parceiros do mensalão – poderão restar, como ele, condenados a elevadas penas enquanto os políticos recebem condenações mais brandas e se livram logo da cadeia.

Toda vez que uma empresa é levada a pagar propina, a obra que executa tem o preço final elevado. Afinal, do couro saem as correias. Os recursos que poderiam ser reinvestidos em outras obras vão para os bolsos dos ladrões do povo.

Isso precisa ser varrido exemplarmente do meio público-empresarial brasileiro. A Operação Lava-Jato traz essa oportunidade de saneamento econômico e moral do país.

A firmeza do juiz federal Sergio Moro, o comprometimento do Ministério Público e o profissionalismo e determinação da Polícia Federal dão as bases para uma verdadeira profilaxia e levarão aos tribunais um vasto conjunto de provas para o julgamento dos envolvidos, mesmo os detentores de foro privilegiado.

Oxalá, por conseqüência, às apurações desse nível se estendam às obras de hidrelétricas, aeroportos, estradas, trens, metrôs e em contratos de prestação de serviços, e alcancem também os Estados e os Municípios.

O dinheiro público e das estatais tem finalidade pública e carimbada e precisa ser protegido. Quem o desvia comete crime contra a sociedade e jamais poderá ficar impune.

Em tempo: há de se entender a Operação Lava-Jato como uma obra de justiça e polícia. Enganam-se os que a classificam como ação de governo, assim como os que, com ela, pretendem derrubar o governo.

É, sem dúvida, uma ação encampada pelo povo, que sai às ruas em seu apoio. Acabar com a corrupção está acima de todo viés político ou ideológico. É prioridade geral...
Dirceu Cardoso Gonçalves

por Dirceu Cardoso Gonçalves

Tenente – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)
+ artigos

Comentários

inserir comentário
0 comentários

AVISO: Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do Jornal Oeste. É vetada a inserção de comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros. O site Jornal Oeste poderá retirar, sem prévia notificação, comentários postados que não respeitem os critérios impostos neste aviso ou que estejam fora do tema da matéria comentada.

 
Sitevip Internet