Artigos / Adilson Reis

28/08/2016 - 11:28

Integração, fronteira, navegação e ZPE

A escolha da cidade de Cáceres para implantação de uma Zona de Processamento de Exportações - ZPE, no Estado de Mato Grosso, é uma decorrência natural de fatores históricos, geográficos e econômicos ligados ao município.

Cáceres, centro urbano fluvial mais antigo da região do Alto Paraguai, tem raízes comerciais e políticas em sua história, tendo sido instalada aqui, em 1871, uma das mais antigas casas de comércio do Estado, a Casa Dulce & Cia, proprietários do histórico vapor “Etrúria”, consequência da livre navegação pelo rio Paraguai.

Até o advento rodoviário brasileiro, o rio era o vetor mais importante na ocupação e no intercâmbio comercial da região, principalmente entre Cáceres e Corumbá, e a melhor opção de transporte para a região sudeste do país.
A história de Cáceres é marcada por ciclos alternados de desenvolvimento e estagnação econômica, com vários casos de sucessos e insucessos na ocupação e exploração desta região rica e fronteiriça.                                              
O marco do Jaurú é o símbolo mais significativo da história de lutas da região. Este monumento representa o entendimento entre Portugal e Espanha (Tratado de Madri, 1750) em determinado momento histórico sobre seus conflitos fronteiriços na região. Inicialmente, este marco foi implantado na confluência do rio Jauru velho com o rio Paraguai, atualmente encontra-se na Praça Barão do Rio Branco, em Cáceres, firmando a lembrança dos nativos de sua história e de seu destino.

A integração intercontinental frente à nova ordem econômica mundial, revaloriza a navegação fluvial do rio Paraguai. Cáceres busca novamente o seu lugar como pólo de desenvolvimento regional, função esta que não é fruto das definições  recentes derivadas de decretos e incentivos, e sim, de sua prória constituição, sua própria história.

Tendo como sua essência a exportação de produtos industrializados, a ZPE deverá oferecer condições de boa competitividade para sua comercialização facilitando o escoamento de seus produtos para o mercado mundial.
Observando a configuração geo-econômica de Cáceres e suas potencialidades, com a reativação da hidrovia e a ligação rodoviária com o Oceano Pacífico, justifica pela sua especificidade, a instalação de um empreendimento como a ZPE.

A escolha de Cáceres é reforçada pela necessidade premente de se aprimorar um modelo econômico, visto que com os desmembramentos ocorridos ao longo de décadas, em  território onde se localizavam suas terras mais férteis, o município teve diminuidas as opções de geração de renda. Ainda que a maioria dos novos municípios nascidos de Cáceres, em conjunto, tenha alcançado sucesso como atestam os indicadores da Região.

  Diante deste quadro, paulatinamente a opção econômica passou a ser a consolidação dos vetores: industrialização e serviços, e percebe-se que isto vem ocorrendo naturalmente. Várias são as evidências, como atestam os números das negociações oficiais e legais exercidas em especial na faixa de fronteira.

  Num enfoque mais amplo, o Estado de Mato Grosso, na região central do continente, enfrenta grandes desafios para escoamento de seus produtos, o mesmo vale quando se trata da entrada de insumos.

O município de Cáceres tem posição estratégica com relação à política de integração para o Estado. Três fatores foram decisivos para Cáceres buscar a instalação de uma ZPE:
  • A cidade é servida por uma malha rodoviária importante no contexto econômico do Estado;
  • A proximidade e a ligação rodoviária com a Bolívia configuram Cáceres como porta de ligação com o Oceano Pacífico para escoamento de insumos e produtos mato-grossenses para os países asiáticos e vice-versa;
  • Sendo o último ponto navegável do rio Paraguai, Cáceres favorece o intercâmbio comercial com os países do Cone Sul e o acesso aos mercados europeu e americano, via Oceano Atlântico, através de operações de transbordo para navios nos portos sul americanos, em cumprimento ao Tratado de livre Navegação da Hidrovia Paraguai-Paraná (Cáceres-Nueva Palmira no Uruguai).
 
     Portanto, a derivada natural de um processo com tal magnitude passa pela potencialização de fatores de integração dos povos fronteiriços, como a consolidação também por aqui do Programa Cidades Irmãs com a vizinha San Matias, na Bolívia, estendendo-se o alcance dos incentivos econômicos e integracionistas para além de seus perímetros urbanos, como historicamente se constata pelas atividades exercidas.

(Adaptado do Plano Diretor / EIA/Rima da ZPE de Mato Grosso em Cáceres. Aprovado pelo Conselho Nacional de Zpes – CZPE, em 29 de abril de 1993.)
Adilson Reis

por Adilson Reis

É engenheiro em Cáceres-MT
+ artigos

Comentários

inserir comentário
1 comentário

AVISO: Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do Jornal Oeste. É vetada a inserção de comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros. O site Jornal Oeste poderá retirar, sem prévia notificação, comentários postados que não respeitem os critérios impostos neste aviso ou que estejam fora do tema da matéria comentada.

  • por Ricardo Vanini, em 29.08.2016 às 10:54

    Brilhante artigo Dr. Adílson, temos que conhecer nossa história para projetarmos nosso presente e futuro....quão rica é nossa terra....

 
Sitevip Internet