Artigos / José Antônio Lemos dos Santos

07/04/2016 - 09:48

​Cuiabá 300-3!

     Desde 8 de abril de 2009 a cada aniversário de Cuiabá escrevo artigos cujos títulos simulam uma contagem regressiva até 2019, ano de seu Tricentenário. Já estamos a apenas 3 anos da grande data. Essa preocupação com os 300 anos de Cuiabá já vinha desde 1989 quando a então nova Lei Orgânica do Munícipio estabelecia um capítulo especial para a Política Urbana adotando entre suas ferramentas o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano, cujos horizontes de planejamento vão de 20 a 30 anos, já forçando nosso olhar para o ainda distante 2019.
 
     Em 1999, a 20 anos do Tricentenário, o IPDU coloca em público a expressão “Cuiabá 300” como meta de trabalho, buscando estruturar o desenvolvimento urbano de forma que a cidade alcançasse padrões urbanísticos e de qualidade de vida mais elevados até 2019. Mas, esse processo foi interrompido e a alternativa que restou foi a preparação em tempo hábil de uma agenda de projetos pontuais para presentear a cidade.

Em compensação, de imediato, em 2009 a história surpreende os cuiabanos com o fantástico desafio da Copa do Mundo. Estou cada vez mais convencido de que esse grande evento foi um artifício do Bom Jesus para um choque em nós cuiabanos fazendo-nos entender os novos tempos que a cidade vive e, assim, prepará-la condignamente para o seu Tricentenário. A cidade, enfim, teria que olhar para o futuro. Contudo, finda a Copa, o futuro sumiu de novo à nossa frente.
 
     Comemorar os 297 anos é exaltar uma cidade surgida entre as pepitas de um corguinho com muito ouro que era chamado pelos nativos de Ikuiebo, Córrego das Estrelas, que desembocava em um belo rio em meio a grandes pedras chamadas Ikuiapá, lugar onde se pesca com flecha-arpão em bororo. E ela floresceu bonita, célula-mater deste “ocidente do imenso Brasil”.

Mãe de cidades e Estados, o aniversário de Cuiabá é também o aniversário do Brasil neste vasto Oeste brasileiro.

Por quase três séculos sobreviveu a duras penas, tempo heroico que forjou uma gente corajosa e sofrida, mas alegre e hospitaleira, dona de um riquíssimo patrimônio cultural e com proezas que merecem maior carinho da história oficial brasileira.

Como um astronauta moderno, vanguarda humana na imensidão do espaço, ligado à nave só por um cordão prateado, assim Cuiabá ficou por séculos, solta na vastidão centro-continental, ligada à civilização só pelo cordão platino dos rios Cuiabá e Paraguai. Cuiabá hoje vibra em dinamismo, globalizada e provinciana, festeira e trabalhadora, centro de uma das regiões mais produtivas do planeta que ajudou a ocupar e desenvolver.
 
     Agora só estamos a 3 anos do Tricentenário. O que poderia ser feito, para não ficar apenas na simpática mesmice da “Garota Tricentenário” ou de um bolo de 300 metros lambuzando a praça? Concluir as obras da Copa? Os hospitais da UFMT? Talvez, enfim, ao menos um projeto completo para a revitalização do Centro Histórico de Cuiabá envolvendo os governos federal, estadual e municipal, com recursos assegurados para sua execução e abarcando toda amplitude de um projeto como este, desde o rebaixamento da fiação, repaginação urbanística, incentivos tributários, até um modelo de gestão do espaço a ser tratado como um shopping cultural a céu aberto.

Nada mais vergonhoso no Tricentenário do que o Centro Histórico como está, sem ao menos um projeto.

Para quem já trabalhou e viu tanta gente boa trabalhar por esse projeto a mais de 30 anos, parece impossível crer que vá acontecer em apenas 3 anos. Mas, como a esperança é a última que morre, não custa nada relembrar o assunto, afinal Deus é brasileiro e o Bom Jesus é de Cuiabá.

Apesar da não tão recomendável experiência da Copa, quem sabe Ele interceda de novo por sua terra? 
José Antônio Lemos dos Santos

por José Antônio Lemos dos Santos

É arquiteto e urbanista, e professor universitário em Mato Grosso.
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