Artigos / Dirceu Cardoso Gonçalves

04/04/2016 - 12:44

O salário do policial militar

               Há um bom tempo, os policiais militares paulistas sofrem com a defasagem salarial. O governo, para fazer frente à insatisfação, tem recorrido a abonos  e outros artifícios, entre eles a tal atividade delegada, que nada mais é do que a oficialização do bico, paga com verbas das prefeituras. Dessa forma, socorre a necessidade imediata dos ativos e desrespeita a legislação que garante aos inativos salário equivalente ao ativo do seu posto. O resultado de anos dessa política desastrosa se traduz numa polícia desmotivada e cheia de homens e mulheres-bomba que, apesar do treinamento, sentem a falta de apreço e de interesse do governo para com a classe e seus componentes. O mais grave é que esse é um sentimento linear da tropa. Diz-se que nada menos de 90% dos oficiais de todos os níveis estão desmotivados, apenas esperando o tempo e a oportunidade de ir para a inatividade.

               O trabalho do policial militar é fundamental à sociedade. Com seu treinamento, força e motivação, ele patrulha as cidades, atende a chamados e combate o crime. Para isso, tem de estar saudável, socialmente integrado e motivado à sua missão. Mas, com os baixos salários praticados pelo governo de São Paulo em relação à sua Polícia Militar, esse profissional não consegue morar em locais que possa ter segurança, é levado a dividir o transporte público com os bandidos que tem a obrigação de combater e, na maioria das vezes, é obrigado a esconder a sua condição de policial para evitar ser caçado e sua família subjugada pelos criminosos. Quando é reconhecido pelos bandidos, especialmente ao presenciar ou ser vítima de assalto, é sumariamente eliminado. Para complementar o pouco salário pago pelo Estado, que deveria ser sua única ocupação, é levado aos abonos ou, então, tem de recorrer ao bico, ilegal ou legalizado.

               Apesar desse quadro adverso, o policial militar está ali, firme, cumprindo sua obrigação e até mais do que ela. A polícia é usada para resolver problemas que o governo deveria enfrentar através de ações sociais e outros serviços, não pela força. É uma situação que carece de empenho, visão e humanidade do governo. Esses profissionais, apesar da vocação, precisam de meios que os mantenham íntegros, saudáveis e seguros. Do contrário, não terão outra coisa a fazer do que a temida Operação Padrão, onde todo o trabalho é executado mecanicamente, sem qualquer empenho pessoal. Se isso vier a ocorrer, além da população, que hoje já é prejudicada pelas dificuldades da polícia, o próprio governo também deverá se ressentir, pois não terá meios de garantir a ordem pública. É preciso rever a política salarial da classe, enquanto é tempo...
Dirceu Cardoso Gonçalves

por Dirceu Cardoso Gonçalves

Tenente – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)
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