Artigos / Dirceu Cardoso Gonçalves

02/04/2016 - 10:04

O vice sempre paga o pato


              Quem já teve a oportunidade de acompanhar os movimentos de queda de governos – federal, estadual e até municipal – observou um lugar comum em todos eles. Apesar da diversidade de motivos para o afastamento de um e outro governante, quem acaba pagando o pato é o vice. Na esfera federal, quando os militares derrubaram João Goulart, em 1964, o vice Pedro Aleixo foi impedido de assumir; na queda de Fernando Collor, em 1992, o vice Itamar Franco foi inúmeras vezes acusados de estar articulando contra o presidente e, agora, Michel Temer é a bola da vez, merecendo a desconfiança de Dilma Rousseff e a hostilidade do seu partido e seguidores, que o acusam de promover um “golpe”. A cena é recorrente também em estados e municípios, onde o vice é demonizado pelo governante náufrago e seus seguidores.

               O vice (presidente, governador ou prefeito) é aquele político, que só faz parte da chapa, por estar tão bem preparado para o exercício do mandato quanto o titular,  emprestou seu nome e prestígio ao candidato ao governo e concordou ser com ele votado para exercer aquilo que juridicamente se denomina “cargo de expectativa”. Assim que o eleito toma posse, seu vice deve permanecer à disposição para substituí-lo em seus impedimentos e assim o faz, para evitar que a administração entre em colapso. Mas, por ser o sucessor natural, é o primeiro suspeito que o próprio governante e principalmente os seus partidários encontram pela frente quando o assunto é cassação de mandato e afastamento definitivo do titular.

               Michel Temer, na carta pessoal endereçada à presidente Dilma  (que ambos se acusam de tê-la vazado à imprensa) disse de seu desconforto com ela própria e com o Partido dos Trabalhadores. Quando seu partido, o PMDB, lançou o plano “Ponte para o Futuro”, foi acusado de conspirar e, quanto mais recrudesce a situação do governo, torna-se mais alvo de manifestações. Suas tentativas de se manter discreto não são suficientes para acalmar os ânimos.

               Os seguidores de Dilma, Lula e do PT precisam entender que, independente do que tenha feito em bastidores, o vice é o substituto legal e governará o país caso a titular seja afastada. Há que se tomar cuidado para não insuflar as massas e, além das crises econômica e política, já instaladas, levar o país também à crise social, que nos últimos tempos vem sendo citada nos meios militares como divisor de águas. Todos os detentores de mandatos e os que militam em partidos políticos precisam compreender e respeitar a democracia. Esse respeito deve se consubstanciar na transparência, na verdade e na luta pela manutenção da ordem. Sem isso, as crises se aprofundam, os governos não se sustentam e o povo sofre...
Dirceu Cardoso Gonçalves

por Dirceu Cardoso Gonçalves

Tenente – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)
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