Artigos / Dirceu Cardoso Gonçalves

26/03/2016 - 07:51

Quem tem medo da delação?

               O encontro da superplanilha da Construtora Odebrecht contendo os nomes de quase 300 políticos de todos os níveis, pertencentes a 24 partidos, que teriam recebido recursos, no mínimo dissimulados, da empresa, é a grande bomba política dos últimos dias. Demonstra que o país precisa ter mais claras e exequíveis as regras para o custeio das campanhas eleitorais e, de outro lado, fazer o controle eficiente do patrimônio dos envolvidos na cena política e seus agregados. É prematuro dizer que toda a dinheirama constante da planilha seja corrupção eleitoral ou não. As investigações vão confrontar os valores da lista da empreiteira com as somas declaradas pelos candidatos em sua prestação de conta eleitoral. Os que tiverem números coincidentes estarão livres da suspeita, mas os divergentes terão de explicar as razões do “plus”.

               Em que pese o rigor cada vez maior que a Justiça Eleitoral adota com a prestação de contas dos candidatos e partidos, saltam aos olhos os jatinhos, o marketing e outros elevados gastos para a manutenção das campanhas. Da mesma forma, muitos políticos e pessoas a eles ligadas são detentores de patrimônio que dificilmente resistiria a uma análise mais aprofundada. Pelo que se tem dado a público na apuração dos atos de corrupção, o dinheiro ilegalmente empregado em campanhas e na vida faustosa dos integrantes da numerosa corte político-administrativa, é parte significativa do que falta para os serviços de educação, saúde e outros básicos à população. É preciso fechar a torneira!

               Além da planilha já revelada, o outro petardo prestes a explodir, que hoje tira o sono de muita gente, é o acordo de leniência da Odebrecht e de delação premiada que seu ex-presidente, Marcelo Bahia Odebrecht, e demais executivos da empresa propuseram às autoridades judiciárias. Se aceito – e provavelmente o será – o acordo estabelece que os depoentes deverão revelar tudo o que sabem para, comprovada a veracidade do que disseram, terem redução nas penas a que estão sujeitos pelos malfeitos já conhecidos. O que já foi revelado sobre a promiscuidade de políticos, administradores públicos e empreiteiros, autoriza o povo a pensar que, sendo a Odebrecht a maior empreiteira do país e com as suas relações já comprovadas com detentores de mandatos, dirigentes partidários e executivos oficiais, a abertura dos seus arquivos deverá ser um grande tiro na corrupção.

               O Brasil precisa purgar toda a corrupção, o vício e a impunidade para que a má política e a administração temerária deixem de atrapalhar os passos de sua economia e de fazer o povo sofrer.
Dirceu Cardoso Gonçalves

por Dirceu Cardoso Gonçalves

Tenente – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)
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