Artigos / Eduardo Gomes

04/10/2015 - 10:19

Cáceres e dualidade

Cáceres, cidade à margem esquerda do rio Paraguai, no Alto Pantanal, no ponto equidistante do Corredor Bioceânico Atlântico-Pacífico e sede de um município com mais de 24 mil km² (maior que Israel), na fronteira com a Bolívia, completa 237 anos com motivos de sobra para celebrar o 6 de outubro, data de sua fundação em 1778 pelo governador Luís de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres.

A rica história de Cáceres é permeada pela generosidade da natureza, que ao produzir o fenômeno da tapagem impediu que as forças fluviais paraguaias avançassem sobre Mato Grosso quando do maior conflito armado do continente.

Em seus registros há fatos relevantes a exemplo da Expedição Roosevelt-Rondon; o cumprimento do desterro pelo médico e jornalista baiano Dr. Sabino Vieira – que na Bahia liderou a Sabinada; o Estádio Geraldão, assim batizado em reverência ao febeano Luiz Geraldo da Silva, que na Segunda Guerra Mundial regou o solo europeu com seu sangue em defesa da liberdade.

A obstinação cacerense transformou o embrião municipal de uma faculdade na Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat).

De sua ousadia nasceu o FIP – maior festival mundial de pesca embarcada em água doce, segundo Guinness Book.

A cidade de Cáceres sempre teve o nariz empinado mostrando vocação de vanguarda e liderança.

Os espanhóis irmãos Castrillon ali chegaram no alvorecer do século passado e, com a construção de um sistema de distribuição de água, revolucionaram Mato Grosso.

Com 90.518 habitantes e o Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 1.106.184.000 Cáceres é indivisível uma vez que a maior parte de sua superfície se espalha pela área alagável do Pantanal.

Mesmo com a riqueza aparentemente demonstrada por esse indicador social, o município tem renda per capita no patamar nordestino: R$ 12.443,44.
 
O que se esconde por trás da dualidade da grande cidade mato-grossense na fronteira Oeste brasileira? A resposta é simples: o crônico vácuo do Estado tanto na esfera federal quanto estadual.

Cáceres é um grande depósito de presos (com forte percentual feminino) estrangeiros condenados por crimes transnacionais com predominância do narcotráfico. É o polo de uma região que não oferece segurança jurídica agrária na fronteira. É uma cidade desencantada com a viabilização da Zona de Processamento de Exportação (ZPE) – com mais de 25 anos de criação, mas que nunca saiu do papel. É o endereço de uma população que não conta com uma base aérea para defendê-la e que sequer pode navegar comercialmente pelo rio Paraguai, enquanto argentinos, uruguaios, paraguaios e bolivianos banhados pelas mesmas águas a utilizam para o transporte. É trajeto do Gasoduto Bolívia-Mato Grosso, que a desconhece e não lhe concede um city gate.

O cacerense precisa que à sua voz se juntem todos os mato-grossenses. Que essa união tenha força suficiente para hastear a bandeira do desenvolvimento com justiça social naquela cidade tão abandonada e desrespeitada. Ad Sum (Aqui Estou) Cáceres, como diz seu lema.
Eduardo Gomes

por Eduardo Gomes

é jornalista em Mato Grosso.
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