Artigos / Luciana Pelaes Mascaro

16/09/2015 - 16:23

O tombamento 'congela' ?

O tombamento de centros urbanos antigos por instituições municipais, estaduais e federais causa, às vezes, sentimentos contraditórios.

Ao mesmo tempo sabemos que, se o centro antigo foi reconhecido e registrado, ou seja, tombado, é porque tem valor. Então, o sentimento é de orgulho e até de alívio, pois sabemos que está seguro e não poderá ser destruído.

Por outro lado, surgem muitos medos, dúvidas e até conflitos. Nos breves textos que seguem, vamos analisar alguns desses sentimentos menos positivos.

O medo mais comum é o do “congelamento”. Muitos interpretam o tombamento como uma ferramenta para evitar qualquer mudança e associam isso ao atraso. O tombamento seria então um empecilho ao desenvolvimento e ao progresso da cidade. Ora, esse raciocínio é um grande equívoco.

Vejamos:

A cidade tem um dinamismo que lhe é próprio. É impossível evitar que a cidade se transforme. Ela nasce de um núcleo original e com o passar do tempo e em função dos ciclos econômicos, se expande ou não. Os materiais e as técnicas de construção mudam.

O que o tombamento busca é conservar características fundamentais de períodos importantes da cidade. Então, o que tombamento faz é colocar limites e regras para que possamos utilizar a área tombada adequadamente. Claro está que nem toda área tombada comporta ou se adequa a determinados tipos de atividades atuais.

Porém, a área tombada tem uma qualidade preciosa que nenhuma outra área urbana tem: ela nos conta histórias, ela nos mostra como os nossos antepassados viviam, ela nos reflete como um espelho, nos diz quem somos e de onde viemos. Por que haveríamos de desperdiçar esse valor que nos foi legado?

Mas a cidade não é formada apenas pela área tombada. Há vários outros espaços na cidade que se adaptam aos mais diversos tipos de atividades, inclusive os maiores e de maior impacto. Isso é uma questão de planejamento.

Assim, a cidade continua seu desenvolvimento normal, de forma mais organizada e tirando partido do tombamento. Pois o valor do patrimônio (arquitetônico, neste caso) é o que viabiliza atividades econômicas como atividades culturais, turísticas, comerciais e de certa mão-de-obra especializada na manutenção do patrimônio arquitetônico.

Sim, o tombamento contribui para o desenvolvimento ordenado da cidade e garante que seus valores não sejam perdidos. Se perdermos o valor da área tombada, perdemos diversas possibilidades que poderiam enriquecer a vida urbana.

O “congelamento”, portanto, é uma ideia que não se sustenta!
Luciana Pelaes Mascaro

por Luciana Pelaes Mascaro

Coordenadora do Depto. de Arquitetura e Urbanismo Faculdade de Arquitetura, Engenharia e Tecnologia
Universidade Federal de Mato Grosso - Cuiabá
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