Artigos / Dirceu Cardoso Gonçalves

01/08/2015 - 11:48

IML hospitais e cemitérios, o abuso na hora da morte

           Na morte de uma pessoa amiga, além da própria situação difícil, tive o desprazer de acompanhar o sofrimento da família decorrente da burocracia e da má prestação de serviço de órgãos públicos encarregados da liberação e da destinação do corpo. A pessoa, vítima de grave moléstia, depois de longo e penoso tratamento, encontrava-se em sua residência no intervalo de um e outro procedimento hospitalar e teve complicações que a levaram ao falecimento num hospital municipal em São Paulo, para onde foi levada quando sofreu a crise. Por se tratar de um hospital onde apenas veio a óbito e não aquele em que recebia tratamento, seu corpo teve de ser remetido ao IML (Instituto Médico Legal) para as formalidades de liberação. Aí começou o calvário uma verdadeira tortura e desrespeito ao morto e ao sofrimento da família, pois o carro funerário, responsável pela condução, chegou só na manhã seguinte e os funcionários informavam que faltam viaturas no setor.

            O falecimento ocorreu na noite de terça-feira, o IML recolheu o corpo só na manhã de quarta e só o liberou para o velório  às 19h30, mas aí iniciava outra sessão de sofrimento pois em uma das cidades mais ricas do mundo não haviam salas de velório disponíveis nos cemitério municipais. Quanta angustia e menosprezo ao morto e à sua família! Sem outra alternativa, a família foi obrigada a realizar o velório na quinta-feira,  a partir das 9 horas. O sepultamento, finalmente, aconteceu às 15h30, isto é, mais de 40  horas após a morte. E o pior é que funcionários do próprio cemitério abordaram a família para oferecer placas e outros serviços e,pasmem, para pedir “caixinha” aos coveiros.

            Inacreditável que um hospital, por mais desequipado que seja, não possua um médico capacitado a atestar o óbito de alguém que ali faleceu e traz consigo as marcas e a documentação de sucessivas intervenções cirúrgicas que não deixam qualquer duvida sobre a causa-mortis. Também inaceitável que o IML, em tempos normais, retenha um cadáver sem qualquer complicação pericial por tanto tempo enquanto a família sofre no lado de fora esperando para cumprir o doloroso dever de sepultá-lo. Lamentável que os cemitérios não tenham salas de velório suficientes para atender a demanda e ajudar numa hora tão difícil, minimizar a dor das pessoas.

            Esse foi apenas um caso que tive a oportunidade de acompanhar em razão da proximidade com a pessoa falecida e seus familiares. O revoltante acontecimento sugere que diariamente famílias e mais famílias passem pela mesma desgastante situação sem nada poder fazer. Tanto os hospitais públicos quanto o IML e os cemitérios municipais precisam de uma completíssima reengenharia de procedimentos para deixarem de burocratizar coisas que poderiam ser simples ou, até, de servir de ponto de corrupção.. Não há razão para que as famílias dos mortos sejam obrigadas a aguardar mais do que 24 horas para liberar seus corpos e nem que tenham de suportar os abutres que as abordam oferecendo serviços e pedindo propinas no cemitério. Isso é pura tortura e precisa acabar. Será que isto acontece também quando morrem filhos ou parentes de gente importante, políticos ou autoridades?
Dirceu Cardoso Gonçalves

por Dirceu Cardoso Gonçalves

Tenente – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)
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