Artigos / Airton Reis

17/06/2015 - 10:25

Beco Brasil

Nem litoral e nem sertão. Cidadania sem bis, democracia sem refrão. Beco do urubu. Beco do lixão. Beco da migalha governamental de cada dia. Beco do infante viciado aquém de uma periferia. Beco da navalha na carne sem a justa aposentadoria. Beco do delator. Beco do delatado. Beco do Planalto deveras elevado. Beco do morro dito pacificado. Beco da Planície numa mesma depressão em nada natural. Beco do ensino muito mais do que fundamental. Beco da educação em tempo integral.

Beco da beca aquém de um tribunal. Beco da violência em nada pontual. Beco da bola e da bolada imoral. Beco da bala perdida e fatal. Beco da insegurança da família brasileira. Beco da peteca de mão em mão sorrateira. Beco das grades e dos gradeados além de uma cela. Beco dos beijos encenados em novela. Beco da passarela primavera sem verão. Beco destampado da panela de pressão. Beco da inflação galopante e sem cela no alazão. Beco sem saída emergencial.

Nem maré e nem enseada. Nem integração nacional e nem fronteira internacional vigiada. Corrupção sem lavanderia licitada. Carniças e carniceiros de uma infância marginalizada. “Cracolândia” disseminada. Cartolas e bengalas de marfim importado. Idosos em asilos relegados. Corruptores eleitos e empossados institucionalmente. Eleitores preteridos e não representados política e socialmente. Moradores ilhados em morros ocupados. Telespectadores dos favelados da ficção. Embromadores escolados de uma Nação. Opositores sem nenhuma função. Base aliada envernizada numa de mão.

Grão em grão. Celeiro em celeiro. Estrada em estrada. Rodovia deveras duplicada. Porto sem navegação comercial. Ferrovia estacionada aquém do Planalto Central. Vergonha pública e publicada na mídia internacional. Divisas e divisores de uma moeda chamada Real. Carne de primeira, tipo exportação. Carne de osso no feijão. Carne de pescoço moída para a população. Pelancas e miúdos alternados. Rabos e pés em caldos engrossados com fubá. Tabuleiros sem baiana. Água no angu encaroçado. Pimenta no vatapá.

Leite no pires derramado. Município brasileiro endividado. Capital de um Estado federado. VLT estacionado em garagem sem cobertura. Fissura urbana em mais de uma estrutura. Obra pública sem nomenclatura. Literatura sem cordel. Cultura sem papel. Violas e violeiros. Pescadores canoeiros. Ribeirinhos a ver navios. Ninhos de japuíras. Cobras e lagartos. Partos e parteiras. Entradas sem bandeiras. Clareiras e madeireiras. Portões e porteiras. Trancas e tramelas. Portas e janelas.

Beco Brasil em desalinho. Beco Brasil no meio do caminho. Beco Brasil no fim da picada. Beco Brasil de uma pátria saqueada. Beco Brasil com data e com hora marcada. Beco Brasil da infância maculada. Beco Brasil de uma margarida despetalada em mal me quer. Beco Brasil em prosa sem ficção. Beco Brasil em rosa sem floração. Beco Brasil em cravos feridos. Beco Brasil dos votos perdidos. Beco Brasil em verso sem poesia. Beco Brasil recortado em fatia. Beco Brasil bolo confeitado de padaria. Beco Brasil dos corsários em franca pirataria. Beco Brasil mina mapeada. Beco Brasil marmelada de mamão. Beco Brasil cópia colorida da corrupção. Tem solução? Tem circo armado? Tem pão amanhecido? Tem eleitorado arrependido?

Tem tempo perdido. Tem espaço sem função. Tem os cofres abarrotados da União. Tem os impostos em qualquer transação comercial. Tem o desgastado e gastador Congresso Nacional. Tem visita em nada oficial. Tem paciente na fila de mais de um hospital. Tem o devido processo legal. Tem mais de um tribunal. Tem o falido sistema prisional. Tem o bando, o bandido, o crime banalizado e o marginal.  O que nos falta afinal? Responda você leitor semanal. Tem beco em mais de um boletim de ocorrência policial. Tem Brasília, a Capital Federal. Beco Brasil sem ponto, sem final...
Airton Reis

por Airton Reis

É poeta em Mato Grosso
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