Artigos / Airton Reis

17/10/2014 - 10:09

Sonatas...

       Tem gente com fome? Sim! Tem leão faminto? Sim! Tem lobo em pele de cordeiro? Sim! Tem raposa no galinheiro? Sim! Tem rapadura de mamão? Sim! Tem literatura de cordel? Sim! Tem Rapunzel? Sim! Tem visconde além do de Sabugosa? Sim! Tem cravo ferido? Sim! Tem rosa despetalada? Sim! Tem marquesa além da de Santos? Sim! Tem condessa além da de Itu? Sim! Tem baronesa além da de Vila Maria? Sim! Tem princesinha além da do Paraguai? Sim!

       Tem criança sem creche e sem escola? Sim! Tem violência cantarolada além de uma moda de viola? Sim! Tem infância sem jardim? Sim! Tem pé de garrafa e curumim? Sim! Tem pó de pirlimpimpim? Sim! Tem estória sem fim? Sim! Tem conto do vigarista? Sim! Tem canto da sereia? Sim! Tem madame Mim? Sim! Tem lâmpada de Aladim? Sim! Tem Alibabá? Sim! Tem os quarenta ladrões? Sim! Tem mulher maravilha? Sim! Tem homem aranha? Sim!

       Tudo nós teremos e tudo nós podemos nas páginas que se fazem literatura com ou sem qualquer ficção. Tudo nós seremos e tudo nós faremos pela perpetuação da nossa cultura ameaçada de extinção. Uns tecem e outros modelam. Uns esculpem e outros sonorizam partituras. Uns dramatizam e outros pintam gravuras. Uns escrevem e outros regem orquestras e corais. Uns bailam e outros bailarinos. Uns consagrados e outros pequeninos. Todos nós cantamos um só Hino. Todos nós traduzimos a nossa região. Todos nós fazemos da arte o nosso pão.

       Todavia, nem todos nós integramos os mesmos picadeiros. Todavia, antes de mato-grossenses nós somos brasileiros. Todavia, nem todos nós aplaudimos o mesmo coliseu. Todavia, para cada Julieta o seu Romeu. Todavia, para cada Marília o seu Dirceu. Todavia, para cada palavra uma sentença. Todavia, para cada frase uma oração. Todavia, para cada verso nem sempre um soneto. Todavia, para cada meia dúzia nem sempre um sexteto.

       Saúde pública? Educação privada? Segurança armada? Transporte intermodal? Assistência social? Albergue municipal? Carro importado? Conta corrente? Dente? Livro? Presídio? Pão de cada dia? Democracia? Cidadania? Presidenta?  Veto? Decreto? Teto? Nem todos os eleitores e eleitoras do Brasil possuem! Ao contrário, a grande maioria do eleitorado brasileiro é possuída pela mesma fome de poder pelo poder.
Enganam-se e deixam-se enganar pelos palatinos de última hora. Elegem e uma vez eleitos, ninguém quer ir embora. Uns ficam para enganar e para corromper. Outros fazem da política uma profissão. Uns intitulam-se partidários da nação.

       Enquanto isso a sonata do sim continua sem maestro de plantão. Tocam e retocam mais do que um berimbau. Esculpem para cada Pinóquio falante um par de pernas de pau. Articulam bonecos. Fabricam fantoches. Mandam o povo comer brioches. Mesmo assim, a sonata do sim continua ecoando de eleição em eleição. Mesmo assim, voltamos afirmar: O Brasil tem solução! A sonata do sim tem fim! E a sonata da corrupção? Não?
Airton Reis

por Airton Reis

É poeta em Mato Grosso
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