Artigos / Airton Reis

25/03/2015 - 09:32 | Atualizado em 08/04/2015 - 07:43

Brasão do Brasil

      Corrupção proclamada. República saqueada. Delação premiada. Toma lá dá cá. Lavadores e lavanderia. Trabalhadores e tesouraria. Troca de favores na ordem do dia. Penhores da democracia. Senhores e senhoras da fixa suja de pleito em pleito eleitoral. Odores exalados aquém de qualquer página processual. Flores, velas e fitas amarelas. Palácios, palacetes, palafitas e favelas. Querências e querelas. Eles por eles. Elas por elas.
  
    Novelos e novelas. Beijos trocados. Tapas encenados. Trapaças corriqueiras. Bandalheiras. Fronteiras sem sentinelas. Rasteiras políticas. Asneiras sociais. Barreiras comportamentais. Protagonistas e figurantes. Figurões e figurinhas carimbadas. Cifra e cifrão. Boca do leão. Rabo da raposa. Garra do gavião. Aqui nem chapeuzinho vermelho e nem lobo mau. Aqui uma estória em conto real. Aqui uma fogueira de tora em nada florestal.

      Talvez, uma bruxa aqui e outra acolá. Certamente, mais do que a moeda número um do Tio Patinhas em cofre fortificado. Muito mais do que um irmão metralha mascarado. Um pato cozido no tucupi. Um caroço roído de pequi. Um “fantasminha” mais do que camarada. Um manda chuva dos gatunos devoradores do pica-pau. Um Zé colméia sem catatau. Um Chico sem Bento. Um chifre na cabeça de jumento. Um tempo. Uma quadra. Um quadrinho. Um vento. Uma ventania. Um “jeitinho”. Um ombro. Um rombo. Um beijinho.

      E no Brasão? Um globo ou um globinho? Uma estrela ou uma constelação? Um símbolo ou uma abstração? Um direito, um dever ou uma obrigação? Um por todos e todos por quem? Quem fica? Quem vai? Quem vem? Quem cala? Quem brada? Quem diz amém? Quem manda? Quem obedece? Quem governa? Quem padece? Quem educa? Quem paga? Quem prende? Quem solta? Quem sofre? Quem castiga? Quem representa? Quem sustenta? Quem defende? Quem acusa? Quem julga? Quem condena? Quem absolve?

      E no Brasil quem resolve? Quem reforma? Quem deforma? Quem trabalha? Quem trabalhou? Quem cultiva? Quem colhe? Quem exportou? Quem recolhe? Quem elege? Quem legislou? Quem governa? Quem determina? Quem planeja? Quem executa? Quem engana? Quem enganou? Quem a vítima? Quem o réu? Quem a testemunha? Quem no fogo do inferno? Quem no jardim do céu? Quem assassina? Quem foi assassinado? Quem rouba? Quem assalta? Quem trafica? Quem viola? Quem é violado?

      Sereis vós, Estados federados? Serão eles os municípios brasileiros endividados? Seremos nós eleitores alistados? Por hora, a brasa queima sem chama. O Brasão blinda a Pátria de fato republicana. Ocorrência policial. Mais um boletim. É Quaresma... Fim!

“Não, não é nas veias do povo brasileiro que corre pus, e não sangue. Por onde corre pus e não sangue, mas pus, é pela veia de seus envenenadores, os politicastros e politicalhões avariados, ulcerosos, incuráveis que se embeberam nos tecidos orgânicos da nação e a intoxicam mortalmente. Todos eles se nutrem, de mil maneiras, direta ou indiretamente do mesmo Brasão deveras guardião do tesouro público”. (Rui Barbosa, 1919).
Airton Reis

por Airton Reis

É poeta em Mato Grosso
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  • por Airton Reis, em 25.03.2015 às 10:29

    Título da opinião: "Brasão do Brasil".

 
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