Artigos / Dirceu Cardoso Gonçalves

26/02/2015 - 07:54

O Brasil e o caminhão, sem polícia

            As manifestações dos caminhoneiros, iniciadas no final de semana, avolumam-se. Em onze estados, as rodovias são bloqueadas pelos transportadores, que deixam passar ônibus e automóveis mas impedem a circulação de caminhões, em protesto contra as altas do óleo diesel, pedágio e outros custos, e ao baixo preço dos fretes. Embora hajam pontos de interdição desde a Bahia e Mato Grosso, os pontos mais críticos estão em Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul. Não há como ignorar – e em não se preocupar - com as interdições na Via Anchieta e ao redor do porto de Santos (SP).
           
A falta de transporte já levou empresas catarinenses a paralisarem suas produções e, no Paraná, por conta da escassez, existem localidades onde a gasolina chega a ser vendida a R$ 5,00 o litro. Noticia-se, também, o oportunismo de ladrões que, aproveitando a movimentação dos caminhoneiros, promovem arrastões nas estradas. Um deles teria sido registrado na última madrugada, no Rodoanel de São Paulo, onde a operadora diz que não há interdição, mas a polícia trocou tiros com indivíduos que queriam parar o trânsito.

            Não há como ignorar que, com o sucateamento do trem e a especificidade dos outros modais de transporte – especialmente a hidrovia e a cabotagem – o Brasil depende diretamente do caminhão para movimentar suas safras e manufaturados, levar os insumos ao comércio e indústria e o alimento para a população. Os caminhoneiros sabem disso e, quando querem, conseguem parar o país. O governo precisa agir rapidamente para evitar o colapso. Não basta recorrer à Justiça e obter o desbloqueio das estradas pela força. Da mesma forma, não se deve usar a polícia para liberar as estradas. Isso é um problema econômico e político e a solução tem de ser política, jamais policial. O uso da força, em vez de resolver, só poderá ampliar o impasse pois, o ânimo exaltado poderá gerar um confronto com consequências imprevisíveis e colocar as partes mais distantes de uma solução.

            O estratégico transporte rodoviário reclama basicamente do desequilibrio entre seus custos e a sua renda. Autoridades do governo adiantam ser difícil rebaixar o preço do óleo diesel (uma das reivindicações). É preciso fazer algo para evitar o colapso. E não pode ser a simplista solução de aumentar o preço do frete, pois isso levaria à explosão das já extrapoladas metas inflacionárias. Toda atividade econômica e os insumos à população são transportados pelo caminhão e elevarão o preço, se tiverem de pagar mais pelo frete. As partes têm de dialogar e buscar o ponto de equilíbrio, com sinceridade, sensibilidade e zelo. O Brasil tem muitos problemas a resolver. Não pode permitir que o caos pela falta de transporte seja mais um deles...
Dirceu Cardoso Gonçalves

por Dirceu Cardoso Gonçalves

Tenente – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)
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