Jornal Oeste

Os produtores australianos desfrutam de uma vantagem até então inimaginável para os produtores rurais brasileiros: a capacidade de simplesmente abrir seus notebooks e escolher para quem, por quanto e quando desejam vender seus grãos. No entanto, como isso se tornou possível? A resposta é simples: eles armazenam sua produção em suas próprias fazendas, utilizando Silos Bunker. Atualmente, oito em cada dez produtores rurais na Austrália possuem um desses silos em suas propriedades.

Ao longo de mais de 40 anos, a Austrália tem aprimorado sistemas de aeração, transferência e armazenagem de grãos em silos bunkers, os quais têm proporcionado inúmeros benefícios para a produção agrícola do país. Além da notável viabilidade econômica oferecida pelos Silos Bunker, que são 70% mais baratos que os tradicionais silos verticais, seus usuários conseguiram reduzir as perdas de produção para apenas 0,025% e aprimorar a qualidade dos grãos. Esses avanços culminaram no reconhecimento do grão australiano como um dos mais caros e bem avaliados do mundo.

Por outro lado, o Brasil enfrenta desafios relacionados à concentração e monopolização de sua produção agrícola por um pequeno grupo de traders e multinacionais farmacêuticas. Esse sistema econômico controla os meios de estocagem e dita as regras para a venda dos grãos, deixando os produtores rurais em um ciclo repetitivo que os força a vender seus produtos a preços muito abaixo do mercado, evitando assim o risco de perderem suas safras ou de até perderem suas propriedades.

No contexto atual, isto é uma preocupação crescente: apenas no Mato Grosso, observa-se um déficit de armazenamento superior a 64 milhões de toneladas. Esse número tende a aumentar nos próximos anos, à medida que melhorias na produtividade e a expansão das áreas cultiváveis se concretizam. A ausência de ações substanciais poderá resultar em um iminente colapso na agricultura nacional.

Estudos da ESALQ indicam que mais de 75% dos produtores brasileiros têm interesse em investir em armazenagem. No entanto, o atual modelo de estocagem vertical se mostra inviável para pequenos e médios agricultores, devido aos altos custos de instalação, manutenção e ao longo tempo de implantação (mais de dois anos).

Além de ser uma opção mais acessível, capaz de minimizar perdas e melhorar a qualidade dos produtos, os Silos Bunker permitem a segregação da produção. Isso significa que um produtor pode separar quantidades específicas para diferentes culturas, como milho e soja, ou até mesmo compartilhar um silo com um vizinho ou parceiro comercial, cada um com seu próprio espaço de armazenamento e a capacidade de vender conforme suas necessidades individuais.

Em uma época em que a independência e a flexibilidade são fundamentais para o sucesso na agricultura, o exemplo australiano com seus Silos Bunker ressalta a importância do controle local sobre a armazenagem e comercialização de grãos. A experiência da Austrália demonstra como sistemas acessíveis e eficientes podem empoderar os produtores, reduzir perdas e elevar a qualidade dos produtos agrícolas. O Brasil, por sua vez, enfrenta desafios decorrentes da centralização do poder nas mãos de poucos, ressaltando a necessidade de considerar modelos alternativos, como os Silos Bunker, para promover uma indústria agrícola mais sustentável e justa para todos os produtores.

Julio Panoff é especialista em Supply Chain, Relações Públicas, Comunicação e Cultura Organizacional por MITx e as Universidades de Auckland na Nova Zelândia e Queensland na Austrália. Trabalhou na liderança global da multinacional de alimentos BRF e hoje sua empresa auxilia o produtor rural do Mato Grosso nas áreas de gestão da cadeia produtiva e marketing.

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