A notícia da morte da poetiza cuiabana Marilza Ribeiro, 87, pegou o cenário literário de autoria da mulher produzida em Mato Grosso de surpresa.
Marilza Ribeiro completaria 88 anos, no dia 27/03.
Descobriu o interesse pela literatura aos 15 anos.
Atuou, em sua estreia, como locutora de rádio e colunista de reflexões sociais para “O Estado de Mato Grosso”.
Poetiza, Pedagoga, Psicóloga, Produtora Cultural, presidiu a Associação de Mulheres de Mato Grosso, atuou ainda como facilitadora de Biodança e desenhista.
A autora Mato-grossense foi homenageada na Literamérica (2006), em Cuiabá, capital do Estado.
Dez anos mais tarde, o seu livro Balaio Amarelo, (2016), sagrou-se uma das dez obras vencedoras, no 1º Prêmio Mato Grosso de Literatura.
O referido livro foi lançado quando a autora contava com 82 anos, em plena atividade literária.
Em novembro, do mesmo ano, apresentou ao público seu oitavo livro: “Acordes para uma menina cantar”.
Dentre as outras publicações de Marilza estão:
“Meu grito: poemas para um tempo de angústia” (1973), “Corpo Desnudo” (1981), “Cantos da terra do sol (1998),
“A dança dos girassóis” (2004), “Palavras de mim” (2005) e
“As aves e poetas ainda cantam” (2014).
Pelo reconhecido valor literário dos seus poemas, a sua obra vêm sendo estudada nos meios acadêmicos dos países de Língua Portuguesa, dentre as quais, a tese:
O tempo na poética de Marilza Ribeiro, da Profa. Dra. Célia Maria Domingues dos Reis (UFMT), defendida na UNESP, sob a orientação de Salvatore D’Onofre;
a Dissertação intitulada:
Dos Frutos às Sementes: A Incidência de Olhares nas Poéticas de Marilza Ribeiro (Brasil) e Ana Paula Tavares (Angola),
de autoria da Profa. Ms. Idalina Meurer, sob minha orientação, no Programa de Pós Graduação em Estudos Literários – PPGEL/UNEMAT, entre outros.
Há em seu repertório diversos escritos inéditos que estão sendo compilados e organizados para futuras publicações. Entre eles, está o poema “Poética Rural”.
POÉTICA RURAL
Marilza Ribeiro
Sou camponesa
Esparramo pela terra palavras-sementes
Signos-férteis Brotando como trigais do sentido
Dourando enunciados
Minha palavra-poesia
Fruto e semente
Rompendo pelos campos
Turbulência do imaginário
Feito searas
Enormes safras colhidas
Pelos olhares com fome
Do saber profundo
Palavras-árvores
Mognos... ipês... aroeiras... oliveiras...Cerejeiras... pessegueiros... mangueiras...
Sou camponesa e jardineira
Planto em minha roça
Sílabas, metáforas, frases
Tudo floresce e frutifica
Sentindo a memória das raízes
Escrita enigmática
Saindo do fundo
Mais profundo do meu fundo
Tão fecundo
Dentro de mim.
O Brasil perde hoje, uma das maiores expressões da Literatura contemporânea produzida por mulheres em Mato Grosso.
Descanse em paz, Marilza Ribeiro!