Artigos / Nestor Fidélis

25/05/2021 - 09:30

O SUS e as doenças existenciais

Há cinco anos o portal jornalístico na internet Veja.com apresentou uma matéria interessante sobre uma questão comportamental e muito trabalhada por diversas religiões, sob o enfoque da científico-moderno, merecendo, por isso, nossa atenção.

A manchete era bem sugestiva: “Perdoar faz (muito) bem à saúde”. Segundo a reportagem, um estudo publicado recentemente no boletim científico “Psychology Journal of Health” comprova que as pessoas que conseguem perdoar seus próprios equívocos, e também perdoar aos outros, logram se proteger dos malefícios do stress.

E pelo que informa a revista Time, a mais tradicional do mundo ocidental, estudiosos da Luther College e da Universidade da Califórnia, ambas norte-americanas, recolherem 148 questionários que foram entregues para jovens adultos para avaliarem o nível de stress de cada um em suas vidas, bem como a aptidão para perdoar e sua relação com a saúde física e mental. A conclusão foi fantástica. Embora todos relatassem as experiências-desafio que lhes ensejaram alcançar altos níveis de stress, “entre os indulgentes os problemas físicos e mentais decorrentes da vida estressante desapareciam. Exatamente. Desapareciam”.

Por conseguinte, também restou comprovado que as pessoas que não conseguem perdoar, ou que sofrem mais para perdoar a si mesmas ou a outrem, sentem um peso emocional que, somatizado, gera problemas físicos maiores em comparação àqueles menores efeitos pelos quais passam quem perdoam com mais facilidade.

O principal pesquisador deste tema, o professor de psicologia Loren Toussaint, também concluiu: que as pessoas que já desenvolveram a “tolerância” tem mais habilidade para lidar com as adversidades da vida ou ter uma atitude mais proativa e suave perante os desafios; e que é plenamente possível aprender a perdoar, trabalhando-se intimamente ou em sessões de terapia.

Numa palestra que fizemos na semana passada trouxemos a experiência de Louise Hay, psicóloga norte-americana que nos deixou em 2017, aos 90 anos, tendo produzido um brilhante trabalho no campo literário e acadêmico. Ela é considerada, inclusive, a precursora da literatura de autoajuda, pois escreveu sobre suas experiências desde a década de 70 e 80, quando atendia voluntariamente a um pequeno grupo de portadores do HIV, e em pouco tempo tornou-se um fenômeno de psicologia com empatia. E mais, tendo sido diagnosticada com câncer, resolver aplicar nela mesma as técnicas de respiração, meditação e visualizações nas quais entrava em comunhão e conciliação com cada célula de seu corpo, enquanto a ciência tradicional recomendava atacar a doença.

Para Louise Hay as doenças tem origem nas nossas próprias emoções em desequilíbrio. Ela também defendia a tese segundo a qual o perdão a si mesmo e ao outro é um passo sem o qual não se resolve as doenças físicas, que seriam efeitos das doenças emocionais.


Atualmente, existem diversas frentes das ciências psicológicas que se somam a todos esses estudos, dentre elas a psicologia transpessoal, a psicologia positiva, o body talking, a terapia EMDR, dentre outras.

No entanto, as doenças chamadas por alguns como existenciais não alcançam apenas pessoas que tem condições financeiras para custear um tratamento privado. Depressão, tendência suicida, necessidades de tratar de fobias, traumas e toda celeuma que inibe o potencial criativo das pessoas já são reconhecidas como patologias que necessitam de tratamento, ou seja, já se reconhece que não se tratar de “frescura”.

Por isso, é fundamental que o SUS – Sistema Único de Saúde, tantas vezes atacado, ridicularizado, mas que nestes tempos pandêmicos vem salvando vidas coletivamente, preste esse tipo de serviço público gratuitamente para os seus usuários, com todas essas técnicas cientificamente reconhecidas e aprovadas, aplicáveis a cada caso de acordo com a situação específica.

Urge humanizar os serviços na prática, sem posturas populistas, mas levando ao cidadão e à cidadã meios de se autopromoverem, de se acolherem, de se sentirem mais livres, mais felizes. Afinal pessoas felizes adoecem menos, causam menos demanda reprimida nos órgãos de saúde pública, e produzem muito mais para si e para a coletividade. Devemos lutar por essa causa!
Nestor Fidélis

por Nestor Fidélis

é advogado em Mato Grosso
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