Artigos / Milson Evaldo Serafim

26/02/2021 - 16:36

Teremos ensino híbrido em 2021?

Até bem pouco tempo, raras exceções, todos concordavam que lugar de criança era na escola. Se voltarmos uma ou duas décadas diriam ainda que lugar de estudar é na escola. Começou a pandemia da Covid-19 e as coisas fugiram da normalidade.

Pais, estudantes, professores e profissionais ligados ao ensino tiveram que buscar alternativas para manter o ensino diante das limitações de convívio que a pandemia nos meteu.

Aquilo que chamávamos simplesmente ensino precisou ser adjetivado para se diferenciar das novas propostas de ensino durante o período da pandemia.

Ensino tradicional, ensino presencial, ensino na escola... em substituição, veio o ensino remoto com suas inúmeras variações.

Aprendemos a falar ensino remoto com aulas síncronas ou aulas assíncronas, se fossem programas de tv diríamos, simplesmente, programa ao vivo e programa gravado.

Aqui vale acrescentar uma informação, já que à primeira vista o ensino remoto não parece algo novo, pois no ensino superior brasileiro já temos bem consolidada a modalidade EaD (ensino a distância). Não é a mesma coisa.

A EaD pressupõe a existência de um ambiente virtual de aprendizagem (AVA), com horário de acesso flexível, já o ensino remoto, no contexto que estamos tratando aqui seria uma tentativa de reproduzir as aulas presenciais, utilizando plataformas de streaming, ou, em uma terminologia do momento, tecnologias da informação e da comunicação (TICs).

O professor ministra sua aula (síncrona ou assíncrona), próximo do que faria se fosse presencial, ou envia apostilas quando o estudante não dispõe do aparato para este tipo de aula.

O ensino híbrido é diferente do ensino remoto e da EaD. No ensino híbrido o estudante é o centro do processo.

Na definição de Lilian Bacich, uma referência deste tema no Brasil, "o Ensino Híbrido tem como foco a personalização, considerando que os recursos digitais são meios para que o estudante aprenda, em seu ritmo e tempo, que possa ter um papel protagonista e que, portanto, esteja no centro do processo".

A sala de aula tradicional pressupõe que todos aprendem da mesma maneira, pois a mesma aula é ministrada para 30, 40 ou até mais alunos de uma só vez.

No livro "Você, seu Filho e a Escola: Trilhando o Caminho para a Melhor Educação", o autor Ken Robinson remonta este modelo ao período da revolução industrial, no século XIX, por razões de desenvolvimento econômico, os governos precisavam "formatar" (dar forma) a sua força de trabalho, pois uma força de trabalho "bem educada" era vital para o crescimento da economia industrial. Daí o modelo de sala de aula atual foi o mais adequado.

Este modelo foi consolidado na expansão da educação pública, para atender objetivos de formatação social e cultural. Aqui, nesta sala de aula, o professor é o centro.

No ensino híbrido, a centralidade é do aluno. A personalização do ensino é base, respeita-se a forma de aprender do estudante e um mesmo tema pode ser aprendido de maneiras diferentes com fontes de conteúdo diferentes.

O conceito de turmas organizadas por idade, por tempo na escola deixa de ser a base organizacional, pois o momento em que cada aluno está pronto para iniciar um novo tema é diferente.

No ensino híbrido o estudante tem autonomia dentro de seu itinerário formativo. Ao menos uma parte do que será estudado é o aluno que escolhe segundo seu interesse.

É demasiadamente restrito chamar um ensino alternado, que combina aulas presenciais e aulas remotas como ensino híbrido.

O autor Michael Horn, no livro "Blended: usando a inovação disruptiva para inovar a educação" alerta para o uso inadequado do termo ensino híbrido, como por exemplo, quando governos começaram equipar salas de aulas com dispositivos e programas de computador e chamar isto de ensino híbrido.

O ensino híbrido depende do uso das TICs. Plataformas como Kham Academy, com mais de 100 milhões de usuários ao redor do mundo, e tantas outras, especialmente aquelas que dão feedback em tempo real do desempenho do aluno durante seu estudo online, são importantes.

Porém, o ensino híbrido pode começar bem mais simples, quebrando a disposição em fileiras das cadeiras e criando um círculo que torna o aluno ativo no processo de aprendizagem.

Podemos usar as mudanças que aconteceram em decorrência da pandemia e as experiências adquiridas com as TICs e com o ensino remoto para discutirmos um modelo de ensino híbrido, se desejamos avançar para o ensino híbrido ou para outro modelo que oportunize aos estudantes aprender as habilidades requeridas no Século XXI. Só não devemos nos apropriar de um nome, que remete a algo que ainda não experimentamos.
Milson Evaldo Serafim

por Milson Evaldo Serafim

É professor do IFMT Cáceres, engenheiro agrônomo, mestrado em agronomia e doutorado em ciência do solo.

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2 comentários

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  • por André Luiz, em 06.03.2021 às 07:36

    O professor propôs no título a falar de ensino híbrido e não conceituou em nenhum momento, trouxe apenas trechos soltos de um livro que com certeza teria o conceito, mas não no que está aqui. Portanto, o professor deve voltar a escrever sobre assuntos relacionados a sua área de formação. Vou ajudar ele aqui, ensino híbrido é quando o aluno tem parte das aulas no ensino presencial, e a outra parte no ensino online ou remoto. Quero aqui também ressaltar que nas escolas particulares de Cáceres não está tendo ensino híbrido. O que tem são parte dos alunos indo a todo momento no ensino presencial, e a outra parte da turma tendo aula somente remota, pois o professor está transmitindo da sala de aula a mesma aula do presencial de quem tá lá, para os que optaram pelo ensino remoto.

  • por Lorivaldo Oliveira Santos, em 03.03.2021 às 06:34

    Li todo o seu comentário e damos nota 1000. A ciência se multiplicaria em grande escala e aí está o processo mais conceituado nessa sua dissertação. Parabéns ao Professor. Prof. Lorivaldo Oliveira Santos em Pirapozinho, SP

 
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