Jornal Oeste

O depois é infinito, e dele só resta o esforço de quem começou a contar e não conseguiu terminar. Quanta metafísica para descrever aquela imensidão vazia de gente, e prenhe de tempo e de espaço. Sem conta pelas distâncias não caminhadas, ilimitada pelas estações não vividas. O depois me pareceu aquele vão de destino onde a beirada da existência resvala no acaso. E nunca para de esvaziar, e escorre, gastando, fazendo um sulco nos propósitos, encolhendo a intenção.

Pensei por um minuto, como fosse novidade: muita prepotência tentar traduzir o infinito. Renata me disse que não me é permitido dar estimativa à desproporção, e que isso me seria, na vida, uma causa mal vivida; mesmo porque não deve haver mesmo filosofia de razão que explique a inteireza da vastidão, ou a ela implique frestas ou nela encontre cantos, ou dobras ou esquinas. Todo contrário deve ser uma espécie de autoengano, daquele que se contenta com um inteirado vago. Ponto solto que não tem prumo, que se sabe nunca terminar, e que no final não estanca frase nenhuma, nem finda com qualquer palavra ou responde com conclusão.

Talvez por tudo, prefiro mesmo encarar o depois como uma medida de tempo, daquelas coisas que entupiam os bolsos e deixei para amanhã, ou que haviam sido anotadas cuidadosamente na caderneta que aquele transeunte funcionário da Prefeitura, que cruzou o meu caminho, carregava consigo no bolso da camisa. 

Talvez por nada, prefiro mesmo encarar o depois como uma medida indefinida de espaço, algures muito longe, que nem os pedais de Pierre Michaux e o furor das pernas de Eddy Merckx resistiriam alcançar; tão, mas tão alheio ao alcance, que só o arrependimento, com aquela impressão inacessível de saudade não vivida, teria a propriedade de encontrar na lembrança ou caçar construindo na mistura do entendimento.  

Presunçoso o depois, com sua sanha sempre presente sobre a previsibilidade confortável do que não for preciso agora. Vem receoso e rouba tudo, leva tudo por findar.