Artigos / Allan Kardec Benitez

04/04/2020 - 11:52

Primeiro a vida, depois a economia

Estamos diante da maior crise sanitária vivida pelo mundo nos últimos cem anos, com crescentes números de casos de coronavírus em progressão no Brasil e em Mato Grosso. No momento temos, além da ciência, diversos exemplos entre os países atingidos, desde aqueles que agiram com antecipação e políticas de distanciamento social, aos de atitude retardatária, que priorizaram a economia acreditando numa equivocada teoria da imunidade. Conhecemos seus distintos desfechos.

Países como a Alemanha e Portugal, mesmo dentro de uma Europa fortemente atingida pelo Covid-19, conseguiram taxas muito menores de infectados e vítimas fatais do que outros países que foram mais permissivos no início da pandemia, como Itália, Espanha e EUA, que hoje contabilizam milhares de óbitos por dia.

O distanciamento social se confirmou como o mais eficiente método de contenção da transmissão e achatamento da curva de progressão dos casos, para que não se sobrecarregue o sistema de saúde e para evitar com que pessoas assintomáticas sejam vetores de transmissão do vírus. 

Somada ao pragmatismo do conhecimento empírico está a ciência. Pesquisadores brasileiros e estrangeiros vêm repetidas vezes alertando para a chegada da pandemia ao Brasil, defendendo a quarentena, suspensão de serviços não essenciais e afastamento social. Hoje a imprensa, os vídeos e as fotos comprovam o cenário que se desenhava.

É nesse momento que testemunhamos a necessidade de um Sistema Público de Saúde forte e consolidado, quando recorremos aos cientistas que dependem dos investimentos públicos em ciência, tecnologia e inovação, momento em que percebemos como são importantes as instituições públicas direcionadas ao bem comum.

Desde a confirmação do primeiro caso de Covid-19 em Mato Grosso, seguimos rigorosamente as orientações da OMS - Organização Mundial da Saúde e do Governo de Mato Grosso. Na Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer, liberamos para home office todos os servidores dos grupos de risco. Os outros servidores seguem trabalhando com EPI, materiais de higiene, turno reduzido para seis horas diárias e em regime de escalonamento, para que os serviços essenciais da Secretaria não parem.

Determinamos, desde 16 de março, a suspensão e adiamento de todos os eventos culturais e esportivos, sejam de realizações próprias da Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer, ou provenientes de parcerias, emendas e convênios, por meio do Decreto nº 407/2020 publicado pelo Governo Estadual.

No Esporte mato-grossense, campeonatos, torneios e os Jogos Escolares da Juventude 2020 foram adiados e o Complexo Arena Pantanal está fechada. Na Cultura, está suspenso o atendimento ao público em todos os equipamentos culturais do Estado. Museu de Arte Sacra, Museu de História Natural Casa Dom Aquino, Museu Residência dos Governadores, Galeria Lava Pés, Cine Teatro Cuiabá e Casa Cuiabana estão fechados ao público e também orientamos o adiamento dos eventos culturais privados, festivais, shows e apresentações públicas que reúnam aglomerações.

É inevitável que todas essas medidas, absolutamente necessárias, impactem a economia. Porém, é dever do Estado zelar pelas vidas humanas até que estejamos em uma situação de segurança sanitária para retomar a economia em toda sua capacidade. E para a população sem acesso à renda durante o período de distanciamento social, o Estado deve prover uma renda básica de auxílio. 

Nesse sentido, apoiamos veementemente o pacote recém aprovado pela Câmara dos Deputados e Senado Federal que oferece uma renda social aos brasileiros mais vulneráveis. Apesar do presidente Bolsonaro ter sancionado o projeto, ainda não há uma data definida para a transferência de renda, e é preciso que seja urgente.

Defendemos que o Estado brasileiro desenvolva programas de apoio às micro e pequenas empresas que protejam os empregos até que retornem às atividades. Subscrevemos também as orientações do Ministro Mandetta, que tem exercido um aguerrido trabalho de gestão da crise, e recentemente convocou todos os profissionais da saúde, inclusive os da Educação Física, classe da qual faço parte.

Diferente de uma guerra, onde existem dois pólos contrários em conflito, a pandemia posiciona o vírus como um inimigo comum a todos. Mesmo sob distanciamento social, nunca estivemos tão conectados uns aos outros, construindo redes de solidariedade e afeto que são absolutamente antagônicas aos sentimentos despertados em uma guerra. É por meio da empatia e do humanismo que encontraremos o caminho para atravessar esses duros tempos.

Neste momento nosso compromisso é com a vida humana, com as famílias de todos aqueles que estão sendo impactados, tanto na questão sanitária, quanto econômica. Vamos seguindo as orientações das autoridades de saúde para permanecer em casa, quando há essa possibilidade, respeitar o distanciamento social, a suspensão do comércio e serviços não-essenciais, utilização consciente de equipamentos de proteção e tantas outras medidas também defendidas por diversos cientistas e instituições brasileiras e internacionais. E para atravessar esse duro caminho que temos pela frente, é imprescindível prosseguir construindo redes de solidariedade para garantir o desenvolvimento humano e social do país.
Allan Kardec Benitez

por Allan Kardec Benitez

é Professor da rede estadual de Educação, possui mestrado e doutorado em Estudos de Cultura Contemporânea pela UFMT, é membro do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso, Secretário Estadual de Cultura, Esporte e Lazer de MT, Deputado Estadual licenciado e presidente do Diretório Estadual do PDT-MT
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3 comentários

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  • por Pantaneiro, em 13.04.2020 às 13:18

    Falar é fácil para quem tem o salário garantido e não é pouco, mas perguntem se ele abre mão de um mês sequer de seu salário. Pura hipocrisia.

  • por Interior, em 11.04.2020 às 10:14

    O professor tá com o salário garantido, pago pelos nossos caros impostos, com a dispensa cheia, daí pode arrotar em alto e bom som" Fique em Casa" igual artista da Rede Globo Lixo de TV. Queria ver se dependesse de sustentar a família, se fosse um feirante, um ambulante, etc? Só se esqueceu que fome também mata em grande escala.

  • por Roberto silva, em 04.04.2020 às 12:07

    Pobreza também mata

 
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