12/01/2015 - 11:31
O capital, o trabalho e o governo
Os metalúrgicos de São Bernardo do Campo bloquearam o trânsito da Via Anchieta, nesta segunda-feira, para protestar contra as demissões na Volkswagen e Mercedes-Benz. O movimento grevista, que já dura uma semana, sai dos limites das montadoras e leva seus reflexos para toda a comunidade, impedida no seu direito de ir-e-vir. Esse o seu lado perverso, pois terceiros, que nada têm de relação com a classe ou com suas empregadoras, acabam impedidos de fazer suas coisas. É a irresponsável fabricação do caos público que, não podemos esquecer, também ocorre quando os ditos movimentos sociais ou de reivindicantes fecham as vias públicas ou invadem propriedades.
A indústria automobilística, cuja produção vem em queda, promove demissões e os sindicatos protestam legitimamente com o objetivo de manter os empregos. O que se espera para o momento é a atuação firme do governo em busca do melhor acordo entre as partes. As autoridades não podem atuar como simples observadoras da contenda, pois a própria estrutura econômica em que se baseia o setor é resultante de ações governamentais que levaram à instalação das montadoras no país. Para as empresas, na economia globalizada de hoje, seria muito fácil encerrar as atividades e passar a suprir o mercado com veículos produzidos nas unidades que mantêm em outros países onde, mercê da política econômica e social mas equilibrada, os trabalhadores sejam menos exigentes. Só o patrimônio imobiliário que possuem no Brasil valeria muito dinheiro e poderia ser colocado no mercado. Mas isso não atende aos interesses nacionais.
É obrigação do governo, criar as condições econômicas para as imprescindíveis montadoras continuarem atuando no país, e zelar pelo equilíbrio nas relações das empresas com seus empregados. O partido que está há 12 anos no governo e agora começa mais um quatriênio não tem o direito de negar essa mediação e regulação, até porque nasceu entre os metalúrgicos do ABC, exatamente no embate entre patrões e empregados. É preciso, agora que governa, colocar em prática aquilo que cobrava dos governantes nos anos 78/80.
Não se pode permitir que o grevismo se alastre. O governo tem o dever de, além de fazer os ajustes que a economia exige, zelar pelo equilíbrio entre o capital e o trabalho e desenvolver políticas que mantenham empresas e empregados em produção. Do contrário, a crise só tende a aumentar...