Artigos / Dirceu Cardoso Gonçalves

10/01/2015 - 09:43

A hora de acertar as contas

            A indústria automobilística, que serviu de escudo para o governo transformar o tsunami da crise econômica mundial de 2008/9 na “marolinha” que o então presidente Lula previu para o Brasil naquela tormenta internacional, é a primeira a acusar a crise que hoje vive a economia nacional. No ano de 2014, mesmo ainda vigorando a desoneração de impostos, foram produzidos 15,3% menos veículos que em 2013. Agora, com a volta do IPI aos patamares normais, a tendência é que o mercado se retraia ainda mais, até porque parte dos consumidores que aproveitaram a redução de impostos o fez através de financiamentos de longo prazo e ainda está endividada, sem possibilidade de trocar o veículo por um novo. O mesmo processo deu-se com os eletrodomésticos, cujas vendas também estão em retração.

            A indução de economia através do endividamento do consumidor foi uma temeridade cometida pelo governo. Serviu para dar fôlego à produção, mas trouxe problemas a grande número dos consumidores, levados a consumir mais do que podiam valendo-se de linhas de crédito alongado. Deixou-se de enfrentar a crise como ela era para transferir seus efeitos para o momento de exaustão da capacidade do consumidor se endividar, que parece ter chegado.

            Com os pátios lotados e as vendas em queda, as montadoras começaram agora o processo de demissão e enfrentam os trabalhadores, que fazem greve em busca da manutenção do emprego e principalmente de conquistas como estabilidade, PDVs e outras vantagens. O setor, de orientação capitalista, reage e tenta contornar os problemas, mas o confronto com os empregados parece cada dia mais próximo. O próprio governo, oriundo do movimento sindical, já não pode mais fazer os favores e desonerações de antes porque o conjunto de economia vai mal. Ao que tudo indica, chegou a hora de beber do cálice amargo do ajuste e da arrecadação. A presidente Dilma acabou levada a escolher uma equipe econômica de banqueiros, inimaginável para os padrões petistas de até bem pouco tempo e certamente não poderá fazer com seus novos auxiliares o papel intransigente que desempenhou com Guido Mantega.

            As greves começam a pipocar e o discurso salvador do governo parece ter chegado ao seu limite. É preciso muito trabalho, comprometimento e patriotismo de todos os atores desse complicado teatro, para não botarem fogo no Brasil. Há de se ter  juízo e bom desempenho, lembrando que se em vez de Dilma tivesse vencido as eleições Aécio Neves, mercê do momento econômico mundial, não haveria procedimento muito diferente ao adotado na área econômica...
Dirceu Cardoso Gonçalves

por Dirceu Cardoso Gonçalves

Tenente – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)
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