Artigos / Dirceu Cardoso Gonçalves

29/12/2014 - 14:46

Mandato para o comandante-geral

 
            A entrevista do cel. Benedito Roberto Meira, comandante-geral da Polícia Militar de São Paulo, vem causando grande repercussão. Sua fala trouxe à luz da sociedade insolúveis problemas vividos na área da segurança pública, um setor cada dia mais problemático da sociedade brasileira, que merece e exige profundas reflexões. Ao clamar por um novo pacto em relação aos apenados, refere-se aos efeitos negativos do crescente aumento da criminalidade, que a leniência governamental e social nos presídios causa ao trabalho policial e ao bem-estar da sociedade alvo dos crimes engendrados pelo crime organizado dentro do cárcere e cometidos fora dele. Dentro do  contexto, os diferentes temas que abordou – quebra da paridade de salários entre policiais civis e militares, critério de promoções militares e outros – também constituem gargalos que precisam ser removidos mas, infelizmente, são mantidos por razões políticas e, em conseqüência, fortalecem a criminalidade que, cada dia mais,  caminha  para o descontrole..O próprio posto de comandante-geral carece de mudança. É cargo de confiança do governador e, pela natureza, o simples ato de conceder entrevista e falar de problemas estruturais é um ato de coragem e comprometimento com a causa pública, que pode receber as mais diversas e impróprias interpretações. 

            Para o bem da corporação, da sociedade e do próprio governo, o posto de comandante da PM devido a sua importancia para uma gestão moderna, deveria ser um mandato e não uma simples nomeação. Privativo de coronéis da própria instituição, é um lugar para poucos dos oriundos do quadro que prestaram mais de duas décadas de serviços, iniciando como aluno-oficial e percorrendo todos os postos do oficialato. A rigor, todos os que preenchem as condições legais para assumir, reúnem as qualidades profissionais e pessoais para o desempenho. O ideal seria que, a exemplo do que ocorre na chefia das universidades e do ministério público, a corporação oferecesse uma lista tríplice ao governador e este ali escolhesse o comandante, com mandato de dois anos. O escolhido teria mais liberdade e responsabilidade para o trabalho, podendo suas ações de comando serem cobradas com maior eficácia e devidamente fiscalizadas, sem o aplauso dos acertos ou o ônus dos erros caírem sobre o governante. 

            O que o cel. Meira falou é voz corrente nos meios policiais. Mas, por ser “cargo de confiança” do governador, suas palavras acabam soando com insubordinação, até traição. Devemos entender que qualquer comandante que as tivesse dito logo quando assumiu o comando não teria nele permanecido, pois sua atitude, mesmo que bem intencionada, seria interpretada como critica ao governo. Se não servirem para mais nada, suas declarações tiveram o condão de abrir a discussão sobre a necessidade de mais autonomia e distanciamento político para a corporação como meio de fortalecer a segurança pública...
 
Dirceu Cardoso Gonçalves

por Dirceu Cardoso Gonçalves

Tenente – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)
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