Artigos / Dirceu Cardoso Gonçalves

24/12/2014 - 11:22

A reintegração de Cuba

            O reatamento das relações entre Estados Unidos e Cuba, patrocinado pelo papa Francisco, é uma das maiores notícias de 2014. É um processo que levará meses, talvez anos, até romper as diferenças contabilizadas desde o bloqueio à ilha, ocorrido em 1961. De imediato, cidadãos cubanos e americanos e de 30 países, entre os quais o Brasil, terão mais facilidade no relacionamento e poderão fazer negócios até agora proibidos. Será uma verdadeira reengenharia, tanto na prática estatal e empresarial quanto na cabeça das pessoas que, tanto de um lado quanto do outro, durante essas décadas, foram vítimas da lavagem cerebral e da estupidez ideológica.

            É preciso eliminar do inconsciente cubano aquela idéia de que o regime bom era o vivido na ilha e que os demais não prestavam. Na prática, todos eles já sentiram que essa “verdade oficial” constante de sua formação é inconsistente. Do outro lado, também é necessário acabar com as idéias e teorias difundidas mundo afora de que Cuba é um estado terrorista, entre outras coisas. Há de se entender que toda a radicalização foi mais fruto da guerra fria, que partia o mundo entre direita e esquerda, do que de fatores locais e principalmente do interesse das populações. Com a queda do muro de Berlin e o esfacelamento da União Soviética, entre 1989 e 91, desfizeram-se as forças que usavam Cuba como seu satélite no Caribe e, a partir de então, a sua reintegração à comunidade econômica regional era apenas questão de tempo. Demorou muito tempo, mas vai acontecer. Hoje, as comunicações velozes e a economia globalizada não dão lugar a regimes radicais.
            
No novo contexto, os brasileiros precisam também esquecer as radicalizações. Lançar no arquivo da história – ao lado da 2ª Guerra Mundial, Guerra do Paraguai e outros eventos de que participamos – a Revolução Cubana e as lutas aqui havidas nos anos 60/70, que na época tiveram a participação direta ou indireta de Cuba. Compreender que aquele era um momento mundial inteiramente diferente do atual e já produziu os seus efeitos possíveis e descartou o que era sonho ou utopia. Os brasileiros e cubanos de então hoje estão na faixa dos 60, 70, 80, 90 anos ou já morreram. Para as novas gerações fica apenas o legado e o direito de conviver e enfrentar os desafios do presente e construir o futuro. O passado é historia e só serve para, observados os resultados, não se voltar a cometer os erros e, se possível, potencializar os acertos.
            
Com Cuba reintegrada e sem bloqueio, o continente americano assumirá novas e melhores dimensões perante o mundo...  
Dirceu Cardoso Gonçalves

por Dirceu Cardoso Gonçalves

Tenente – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)
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