Artigos / Pablo Pizzatto

18/10/2018 - 09:31

Democracia à brasileira

Lula não atirará no próprio peito, como fez (à ilharga de teorias conspiratórias) o gaúcho Getúlio Vargas, e mesmo se o fizesse (e, por favor, não estou sugerindo que o faça), não sei se conseguiria impedir a ascensão do NeoUDENISMO que se instalou no Brasil, e que agora volta a misturar o famigerado combate à corrupção com a pretensa, e fantasiosa, ameaça iminente de o Brasil virar “comunista”.

A história parece mais ou menos se repetir no Brasil e, vai ver, seja mesmo cíclica em seus discursos, e redundante na semântica de nossos destinos.

É inegável a contribuição de Lula para o campo social, e a importância de sua liderança para o país. Históricas as conquistas, eu diria. O bico de luz no campo, com uma geladeira em casa. A faculdade pública, e até a passagem de avião, para o pobre. Um pouco mais de dignidade a quem passa fome e é obrigado a competir pelo “mérito” caro da High Society. O trator financiado, com juro baixo para o pequeno produtor. Tudo isso dentre muitas outras coisas não muito bem assimiladas, nem por quem ele ajudou.

Lula subestimou os vários Carlos Lacerda(s) que grassam por aí; todos, cada um, absorvidos pelo frenesi NeoUDENISTA dos últimos tempos, que mistura sensacionalismo judicial com política, fundamentalismo com religião, jornalismo com perseguição, e tudo endossado pelas mídias polvorosas, que a pretexto de liberdade de expressão e de imprensa, contribuíram com grossa parcela de (ir)responsabilidade para o atual quadro.

Lula pecou. E foi tomado pelo maior dos pecados, que não é propriamente a “corrupção”. Falo da vaidade. Envaidecido com sua imagem salvadora de ídolo, apostou mais em sua autossuficiência (imortalidade) que na própria realidade, e nas eleições negou a Ciro Gomes, único que poderia, com algum grau de tranquilidade, levar o 2º Turno para um debate digno de Brasil.

Agora tudo indica que o narcisismo tropical do Lula, e sua pretensão de absolvição nas urnas, com a aposta de transfusão de votos para o Haddad (que o incorpora), não parece ter sido uma estratégia política muito boa e recomendada, ante ao cenário de crise representativa, que questiona, em última instância, a própria legitimidade do Titular-Substituto, já que Haddad sobrevive em campanha com um saldo de votos “interinos”, provenientes ou do Lula ou daqueles que se opõe ao primeiro colocado nas pesquisas.

De tudo, só podemos lamentar o atual quadro de Brasil, afinal, ganhando aquele que ganhar, restará lá, combalida e destroçada, nossa vã democracia à brasileira.
Pablo Pizzatto

por Pablo Pizzatto

Advogado com atuação em direito público Sócio do Escritório Curvo e Pizzatto Advogados em Cáceres/MT
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1 comentário

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  • por SUYANE GIANSANTE, em 18.10.2018 às 16:21

    Que texto maravilhoso Dr. Pablo. Parabéns!

 
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