Artigos / Messias Rocha

03/08/2018 - 13:44

Eleições pelos nossos filhos

Comecemos considerando que acreditar em dias melhores não é o mesmo que alimentar a crença pueril de que “pau torto” vai se “arretar” só com a força do nosso desejo ou de nossos pensamentos otimistas. Isto porque, em muitos casos (pra não dizer todos) nem a lei, nem a ação civil organizada é capaz de alterar o caráter moralmente duvidoso de alguém que construiu suas bases éticas ainda na infância. Se pressão cultural, em si, garantisse de modo absoluto retidão e probidade, no Japão nunca haveria um único caso de cabulação das regras, leia-se: corrupção. Entretanto, para o nosso alivio dramático, temos a eleição como ferramenta para nos livrar de um mau investimento politico. Obviamente que não é tão simples e nem todo candidato novo representa, de fato, alguma renovação, contudo, se sempre que um médico não atende nossas expectativas nós procuramos outro, por que para cuidar da saúde da sociedade reelegemos quem já nos frustrou ou alguém que não conseguiu mostrar a que veio?!

Alguém diria que reelegemos tranqueiras porque há o instituto da reeleição e/ou porque não há opções, mas estes dois argumentos são falsos. Se acabassemos com a reeleição até de vereadores e deputados e o eleitor mantivesse a mesma cabeça, dando pouca atenção à eleição, apenas mudariam os nomes, e as praticas viciadas seguiriam as mesmas de ambos os lados. Mais de 300 era a quantia de candidatos a deputado estadual em Mato Grosso, em 2014, disputando 24 vagas na assembleia legislativa! Ou seja, além de ser um falso argumento, continuar a bradar a velha ladainha de que não há opção também não ajuda em nada. Se eu fosse um politico corrupto, dissimulado e defensor de interesses bem distantes daqueles pelos quais fora eleito, um eleitorado pensando que todo politico é igual e podre, para mim e para o meu projeto de continuidade no poder, seria a maior alegria possível. E o irônico é que eles – os paus tortos – sabem que a maioria do eleitorado pensa assim; isso ajuda a nivelar a qualidade por baixo e as exigências somem!  

Um eleitor com essa cabeça não vai querer saber de procurar diamante num lamaçal onde ele não espera encontrar nada mais que lama mesmo. Este eleitor, portanto, não terá critérios rígidos, bastará ao candidato lhe dar um “agrado” qualquer e estará fechado o acordo; trato este que, diga-se, difere apenas na dimensão, mas possui a mesma natureza corrupta dos grandes e famosos esquemas escusos protagonizados por políticos e empresários diariamente. O falso politico compra o voto do eleitor e depois vende o dele para, por exemplo, sindicatos patronais que “precisam” mudar a legislação para retirar direitos trabalhistas dos seus empregados... por exemplo rs. 

No último período do paragrafo anterior a expressão “falso político” foi empregada de modo proposital. Para os gregos, fundadores da democracia, politico era todo cidadão que se preocupação com a cidade “pólis” e, consequentemente, com a “rés pública”, ou seja, a coisa pública. Seguindo o exemplo grego e aplicando-o na nossa realidade, o individuo que, no exercício do cargo eletivo, prioriza e coloca interesses pessoais acima dos interesses coletivos, malversa dinheiro público e prejudica o seu povo, jamais poderá ser considerado um verdadeiro político.   

Entretanto, apesar de o sistema eleitoral brasileiro favorecer a manutenção de um perfil de representantes políticos de baixíssimo nível qualitativo, há lideres nacionais e locais que já honraram nossa confiança. Em Brasília temos o mundialmente reconhecido senador Cristovam Buarque! No Ceará temos o presidenciável Ciro Gomes, dono de uma mente brilhante e de uma vida dedicada ao Brasil! Em Cáceres, centro-sul do Mato Grosso um vereador chamado Cézare Pastorello está fazendo história naquelas bandas e não tardará outro reconhecimento nas urnas! E em Cuiabá há um líder sindical, Rosenwal Rodrigues, que depois de dedicar boa parte de sua vida à luta pelo atendimento da demanda dos funcionários do judiciário, prende agora representar na assembleia legislativa todos os servidores públicos do Mato Grosso.

Com a cabeça e o coração no ato da escolha, considerando os acertos que tivemos elegendo estes homens bons e alguns outros, podemos ampliar em muito as possibilidades de construirmos uma realidade material, econômica, social, cultural e ambiental bem mais justa e igualitária para nos nossos filhos.

O primeiro passo necessário é entender a quem interessa o seu desprezo pela politica; o segundo passo é saber exatamente o seu lugar social – onde você esta e aonde quer chegar – para, a partir daí, começar a inverter a relação e começar a escolher ao invés de ser escolhido pelos candidatos; o terceiro passo é cruzar as informações do discurso presente com as experiências do passado, com a formação acadêmica e a ficha jurídica daquele que agora esta lançando mão de tudo que é habilidade retórica e artifícios financeiros, técnicos e psicológicos para te conquistar. Tente enxergar seu candidato na crueza de sua personalidade. Faça tudo isso, claro, sem se esquecer de atentar para o último e igualmente importante passo: o acompanhamento vigilante do exercício do mandato, constituído do poder que emanou de você!
Messias Rocha

por Messias Rocha

 Investigador de Polícia em Nova Mutum.
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