Chegou, finalmente, o dia do ex-presidente Lula curvar-se à lei e ao Estado. Depois dos recursos à segunda instância e tentativas de trancamento da sentença condenatória nas cortes superiores, recebeu ele ordem de prisão. Por mais diferenciado que se ache ou seja, não terá como dela fugir, a não ser que renuncie à cidadania. Mas, se o fizer, também perderá a oportunidade de defender-se e, de alguma forma, safar-se das imputações. O melhor a fazer é submeter-se, recorrer nos devidos foros e aguardar a decisão soberana da Justiça.
Retirante nordestino fugido da seca e da miséria, Lula é um vencedor. Aproveitou a térmica do fim do regime militar, estabeleceu-se como sindicalista e político e foi o primeiro operário a conquistar a presidência. Privilegiou o marketing e ganhou popularidade, mas é acusado de graves atos de corrupção e violação de princípios governamentais e administrativos. Viu-se lançado à vala comum dos corruptos e, embora se vitimize e recite o mantra de que "não há provas", já foi condenado num e responde a outros processos resultantes de delações de corruptos corporativos que com ele se relacionaram e dizem ter lhe pago propinas. Sua condenação é um duro golpe às esquerdas brasileiras e, em especial ao seu partido.
A prisão é uma cena de corte na vida política nacional. É o primeiro ex-presidente a ser condenado e preso, mesmo desfrutando de boa posição em pesquisas de intenção de votos e reunindo muitos seguidores. Oxalá o bom senso impere, a defesa faça seu trabalho pelos canais competentes e seus seguidores não transformem os protestos em desobediência civil. Se o fizerem, as autoridades constituídas têm o dever de impedir, mantendo a ordem pública e principalmente o direito de ir e vir da população. As ameaças de mobilização de "exércitos" informais e outras bravatas lançadas tanto pelo condenado quanto pelos seus seguidores e simpatizantes, não podem prevalecer, pois comprometem a democracia que todos dizem defender.
Vivemos um ano eleitoral atípico. Além da prisão do ex-presidente e de outras ex-estrelas do mundo político e empresarial, temos centenas de políticos, potenciais candidatos, também enrolados com a Justiça. A execução das sentenças deve ser ato rotineiro, assim como a defesa dos réus. Será um grande retrocesso se o regular funcionamento do Poder Judiciário desaguar em crise. Democracia não é um regime onde tudo pode, mas um sistema que garante a liberdade de todos os cidadãos mas deles exige o estrito cumprimento das leis e, através do devido processo legal, pune os que insistirem em não observá-las...
O país precisa de paz para trabalhar, eleger seus governantes e parlamentares e, até, exigir que os acusados de irregularidades prestem contas de seus atos. Tudo o que divergir disso, será impróprio...