Jornal Oeste

Tenho pavor de avião.

Pânico, cagaço, dormência...as pernas formigam quando eu afivelo o cinto.

(pode ser também, o fato de ser gorda e os cintos apertarem e cortarem a circulação do sangue nas minhas pernas, vai saber...)
 
Toda vez que vou embarcar, olho para meus companheiros de tragédia.

Tragédia, claro! Porque eu sempre acho que vai dar alguma merda.
 
Certa vez fui ser madrinha de um casamento em MG e no vôo o Alexandre Pires estava sentado ao meu lado e um padre do outro. Visualiza se não é prenúncio de tragédia?
 
Na hora pensei: "gente, tudo pra cair...já vejo a manchete falando do cantor, do padre e de mais 195 pessoas" ...
 
Outra vez, voltando de Arraial D'Ajuda, junto com um amigo, pegamos um voo charter, aqueles meio sem rótulo, Vica Airlines. Poderia ser Zica. Um Fokker 40.

Surgiu uma turbulência, o comandante avisou que mudaríamos de rota por conta das nuvens. Eu olhei pela janelinha e a cena que eu vi foi algo entre os filmes 2012 e a Guerra dos Mundos. Era o apocalipse em forma de Cumulonimbus...

Meu amigo disse: "Ju, engole a identidade!"
Eu perguntei: "Oxi, por quê?"
E ele: "Pra facilitar a identificação!"

Depois de uns 3 trancos, com direito a pessoas gritando, gente rezando e malas caindo, ultrapassamos a tempestade e chegamos sãos e salvos. Eu desci do aviãozinho e tal qual o Papa João Paulo II, ajoelhei e beijei o chão agradecendo pela terra firme.
 
Não dá pra se manter blasé enquanto um avião pousa.

Você já prestou atenção no barulho do tal do "reverso" quando está pousando? Aquele "hmmmóóóóó" que dá uma brecada e todos seus órgãos internos se deslocam pra frente?  Se o cagaço tivesse um som, seria esse. Eu lembro até do Salve-Rainha nessa hora, e olha que eu nem sou muito adepta à orações...
 
Por falar em orações, certa vez um amigo ateu me disse que um vôo é um culto ecumênico. Não importa no que você crê. Mas que ali na hora de fazer aquele bichão voar, você crê até nas Garotas Super Poderosas, e se o colega do lado faz o sinal da cruz, uma reverência a Alá, ou entoa um cântico, você por via das dúvidas, faz também...
 
Vai que...
 
(texto inspirado na minha querida Renata Madi, que partilha o pânico de aviões comigo!)