Artigos / José Ricardo Menacho

22/09/2017 - 09:48

Que comemoração nós queremos?

Daqui mais alguns dias, na data de 6 de outubro de 2017, Cáceres completará mais um ano de aniversário. Que tal se idealizássemos e conduzíssemos as comemorações em sua homenagem de uma forma diferente? Estava aqui pensando se não poderíamos aproveitar a oportunidade para discutirmos sobre os nossos avanços e recuos, acertos e erros, possibilidades e impossibilidades na construção do nosso espaço urbano? Até porque, tentar compreender a cidade também é uma forma de celebrá-la.

Nesse sentido, defendo uma proposta de comemoração diferente, não por irreverência ou exotismo de minha parte, não por querer, sem muito fundamento ou circunstância, algo apenas que se mostre diferente. Mas pela preocupação em interromper, o quanto antes, o processo perverso de esvaziamento da cidadania, que, para além de silenciar protagonismos, e, conseqüentemente, castrar o surgimento de novos arranjos e criações, como já nos manifestamos em tantos outros textos, vem tornando difusa (e confusa) a relação entre os cidadãos e o território que ocupam (ou deveriam, democraticamente, ocupar).

Poderíamos começar com algumas ações nas escolas, o que acham? A Secretaria Municipal de Educação, bem como a Câmara de Vereadores, poderiam, inclusive, mobilizar, incentivar e apoiar atividades como: palestras interativas (não monólogos enfadonhos e entediantes), rodas de conversas (a fim de que os jovens participem, ouçam e, principalmente, sejam ouvidos), relatos de experiências (a fim de que a dinâmica, a lógica, o imaginário e as narrativas sobre a cidade não sejam uma única). E, cursos sobre a cidade, contemplando seus aspectos culturais, históricos, sociais e econômicos, e, especialmente, os desafios do presente e os desejos e visões para a próxima década.

Não é sonho não! Não é utopia não! É possível! Precisamos, urgentemente, pluralizar a fala sobre “o agora” e “o depois” na cidade. E olha só que oportunidade interessante! Diria até, única! Por que não?

Como costumo afirmar, precisamos estimular e provocar inteligências. Estimular e provocar, porque a primeira das primeiras transformações se opera a partir da dobradinha entre a propagação de conhecimento e o fomento à invenção e à reinvenção de ideias.

Ainda falando sobre as escolas, tenho mais uma sugestão, nada muito inovadora, inclusive muita professores já o faz, mas que talvez também sirva para o que pretendemos. Poderíamos organizar um Concurso de Redação, por sala, por unidade escolar, ou por um conjunto de bairros, ou, quem sabe, nos moldes do esquema futebolístico, com preliminares, eliminatórias, semifinal e final. E o tema? Obviamente que não poderia ser outro: para além da mesmice e do senso comum, que cidade nós queremos? Nossa! Seria um exercício que motivaria muita gente, e o objetivo é esse mesmo: motivar. Motivar para ocupar, motivar para respirar e motivar para vivenciar os nossos cantos e recônditos urbanos.

A mídia local também poderia colaborar intensamente para as nossas comemorações, não é mesmo? E já adianto, não apenas fazendo especial com músicas locais, ou vídeos com imagens da cidade. Cáceres merece mais! Merece a construção conjunta de projetos para o amanhã. E, dado o seu alcance, poderíamos potencializar isso com os programas das emissoras de rádio e televisão, com as reportagens especiais e com os artigos dos jornais, impressos e virtuais.

Seria enriquecedor, por exemplo, não somente vermos, ouvirmos ou lermos uma série de entrevistas com os nossos representantes políticos, mas, também, com os diretores e coordenadores de escolas, com os professores da Educação Básica das redes municipal, estadual e federal, com as lideranças dos movimentos sociais, dos sindicatos e das associações de classe, com as organizações não-governamentais e com os membros dos coletivos, todos, sem exceção, manifestando-se sobre a cidade desde o seu lugar de fala, desde às suas percepções e impressões de leituras dos encantos e desencantos do chão que habitam.

Seria igualmente enriquecedor, por exemplo, acessarmos vídeos temáticos nas páginas da net, com causos da oralidade de outrora; com memórias do tempo do onça; com declamação de poemas de nossos poetas; com a leitura de textos clássicos de nossos historiadores; de modo a firmarmos e fortalecermos laços com as nossas raízes, com as nossas origens, diria até, de modo a reescrevermos a nossa própria compreensão e apreensão da cidade, para mais adiante de uma história oficial que nos foi e é contada.

E o que teremos nas praças? Ah, adoro praças! Teremos atividades culturais, por suposto. Mas além das apresentações a serem apreciadas em horários alternativos, sobretudo quando houver já uma sombrinha bem ampliada, poderíamos organizar oficinas de dança, com aulas abertas, ou também oficinas de exercícios aeróbicos para os mais diversos gostos e idades. Poderíamos também aproveitar as praças para realizar competições de xadrez, de bozó, de dominó e de damas. Quanto mais conseguirmos enchê-las, mais ponto para as nossas pretensões de comemorações diferenciadas conseguiremos.

Cáceres não é um problema a nos perturbar, um fantasma a nos assombrar, ou um fardo a ser carregado no lombo, discursos que a descrevem dessa forma, e não são poucos, infelizmente, são muitos, em realidade, contribuem exclusivamente para naturalizar as violências e as opressões – simbólicas ou físicas – os desmandos, as contradições e as precarizações, que, volte e meia, comprometem a sua, digamos, rotina desrotinada.Cáceres é um caso nosso! É terra a ser cultivada por nós! Viva Cáceres! ***___José Ricardo Menacho: Professor do Curso de Direito da Universidade do Estado de Mato Grosso (Cáceres), autor do livro “O Plural do Diverso”.
 
José Ricardo Menacho

por José Ricardo Menacho

Professor do Curso de Direito da UNEMAT/Cáceres
Mestre em Direito pela UFPR e Doutorando em Linguística pela UNEMAT
Escritor e Cronista
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